O movimento de Jesus





Por Marcos Aurélio dos Santos

Jesus de Nazaré não foi um religioso fervoroso no sentido institucional. Não fundou uma religião, tampouco organizou estruturas formais. Não deixou doutrinas sistematizadas, dogmas, códigos legais ou instituições. Jesus foi um libertário, um homem livre, que não se submetia aos sistemas religiosos de sua época. Com seus discípulos e discípulas, deu início a um movimento na Galileia — região periférica da Judeia — voltado para os marginalizados e excluídos.

Ao iniciar esse movimento popular, Jesus despertou o ódio dos religiosos de seu tempo, assim como da classe política e econômica dominante, majoritariamente conservadora e fundamentalista. Eram os reacionários de então — poderíamos compará-los, analogamente, aos "bolsonaristas do Sinédrio". Defensores ferrenhos de Deus (como se Deus necessitasse de defesa), da pátria e da família. Inimigos dos pobres, dos marginalizados, das mulheres, dos doentes e dos pecadores.

No movimento de Jesus não havia aquilo que, atualmente, muitos líderes religiosos consideram elementos obrigatórios do cristianismo: doutrinas rígidas, dogmas, hierarquias clericais, templos suntuosos ou cultos ritualísticos. A missão de Jesus era justamente substituir as exigências do sistema religioso pela prática do amor, vivida na liberdade do Espírito — sem o peso das instituições e seus fardos. Como ele mesmo afirmou:

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30).

No movimento do subversivo da Galileia, o rigor da lei religiosa não encontra espaço. Seus seguidores e seguidoras, na perspectiva da libertação, vivem uma espiritualidade que transcende o controle institucional. Vivem sob a leveza do Espírito, sem constrangimento, medo ou culpa. A vida cristã não é uma obrigação imposta, mas sim um ato de liberdade e amor: o mover do Espírito em nós.

Pretendemos aprofundar a reflexão sobre o medo e a culpa em um próximo artigo. No entanto, é importante destacar que esses sentimentos são, em grande parte, frutos das múltiplas opressões promovidas pelos sistemas religiosos. Tais estruturas, baseadas em doutrinas rígidas e dogmas inflexíveis, foram historicamente desenvolvidas com a finalidade de controlar o pensamento e as ações de seus adeptos.

Portanto, o "Jesus religioso" das celebrações de domingo — centrado em ritos, moralismo e dogmas — está muito distante do Jesus dos Evangelhos. Aquele que caminhava pelas estradas poeirentas da Galileia, que tocava os intocáveis, que perdoava os pecadores, que denunciava os poderosos e acolhia os esquecidos. O verdadeiro Cristo é o do caminho, do movimento libertador, do Reino de Deus que se manifesta entre os pobres, os justos e os livres.



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