Uma Igreja primitiva e comunista



Marcos Aurélio dos Santos 

Comunhão e Partilha na Igreja Primitiva: Uma Análise da Prática Comunitária dos Primeiros Cristãos

A associação entre o cristianismo primitivo e práticas de partilha tem sido objeto de debates teológicos e históricos. Para muitos religiosos, especialmente os conservadores de extrema-direita, sugerir que a Igreja do primeiro século adotava práticas semelhantes ao comunismo é visto como uma negação da fé cristã — um escárnio, um grave pecado contra a Igreja de Cristo. Para essa perspectiva, ser um cristão comunista equivale a negar a fé, renegar Cristo e ser considerado um herege inimigo da Igreja.

Contudo, os ensinamentos de Jesus e a forma comunitária de vida dos primeiros cristãos apontam em direção contrária. Foi entre os primeiros seguidores de Jesus, na comunidade de Jerusalém, que se manifestaram práticas de partilha e solidariedade que remetem a um modelo de comunismo cristão. Não é necessário um esforço exegético complexo para compreender o relato do evangelista Lucas sobre a vivência dos primeiros cristãos a partir de uma perspectiva de comunhão e igualdade.

Longe de representar regimes políticos autoritários, como os experimentados em determinados contextos históricos, o modelo de vida comunitária dos primeiros cristãos era fundamentado no amor, na justiça e na equidade. Para eles, todos tinham direito aos bens da terra e aos frutos por ela produzidos. Opunham-se à exploração dos mais pobres e ao acúmulo de riquezas — condutas que contradizem os ensinamentos e o exemplo de Jesus.

Nos primeiros capítulos do livro de Atos dos Apóstolos, Lucas descreve, de forma concisa, a economia praticada entre os cristãos primitivos. Aqueles que possuíam mais bens eram chamados a compartilhar com os que tinham menos, para que não houvesse necessitados entre eles. A prática da partilha era a base dessa vivência comunitária, contrastando com a lógica do acúmulo. O cristão comprometido com esses princípios vivia satisfeito com o que possuía, sem buscar enriquecer às custas do trabalho alheio.

Infelizmente, grande parte da Igreja contemporânea não compreende o verdadeiro significado dessa comunhão cristã. Caso venha um dia a compreendê-la em profundidade, terá diante de si o desafio de romper com as estruturas capitalistas que ainda moldam seu modo de existir.


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