Páscoa: libertação, resistência e esperança

Por Marcos Aurélio dos Santos

Por várias décadas, tem-se ensinado aos cristãos e cristãs sobre um “Jesus” poderoso e abençoador, que responde às orações daqueles que o buscam para receber a benção. O Jesus da glória, cheio  de poder e glória, que age diantes dos múltiplos problemas pessoais de cada um, com respostas positivas. É o Jesus que abre portas de emprego, que faz prosperar uma empresa em falência, que faz multiplicar os redimentos financeiros da família, que cura as enfermidades do corpo. É o Jesus da prosperidade, exaltado, um Jesus individualista, exclusivo de um determinado grupo, um Jesus distante da realidade comunitária, do povo, que vive a maior parte do seu tempo assentado em um trono de glória, controlando tudo e todos.

Mas é também um Jesus ditador.  Sob seu comando, seus seguidores lhe prestam obediência, sob a lógica do medo, da alienação em uma estrutura de hierarquias opressoras. Um tipo de Jesus excludente, doutrinador, severo e sem espírito comunitário, encontrado apenas no templo, nos altares, nos ritos e normas doutrinárias, um Jesus anti-libertário, que alimenta uma esperança alienada, que vê somente o céu, em detrimento do contexto e realidade do aqui e agora. 

Nesta páscoa, urge desconstruir. É preciso repensar o ensino bíblico sobre Jesus, sobretudo a partir de uma ótica periférica, dos Evangelhos, nos relatos sobre a vida do Jesus de Nazaré, amoroso, subversivo, de um ministério clandestino, livre, humanizado, sob entranhas de compaixão e misericórdia. Subversão que vai contra os poderes de dominação, clandestinidade sem apoio oficial do clero de Jerusalém. 

A páscoa celebra a ressurreição do Jesus de Nazaré, ressurreição que gera vida abundante, espírito comunitário, esperança utópica, fé e resistência. Urge celebrar e viver a vida do Jesus da Galileia, que se mistura com o povo, que faz amigos e amigas, que caminha com os pobres, que não tem um grupo predileto, que acolhe todas e todos. 

A vida em comunidade vale mais do que todos os bens do mundo, pois, do que vale ganhar o mundo inteiro e perder a vida? (Disse Jesus). Páscoa é compaixão, misericórdia, partilha, esperança, fé e amor. Jesus é de todas e todos. Páscoa é liberdade, utopia, comunhão, sobretudo, tempo de relembrar aos discípulos e discípulas, a missão de imitar o subversivo de Nazaré. 






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