Pastoras e Pastores Fora da Lei

Marcos Aurélio dos Santos

Pastoras e Pastores Periféricos: Entre o Templo e as Ruas

Pastoras e pastores das periferias, à semelhança do Jesus de Nazaré, não nutrem grande apreço pelos templos. Seu amor reside nas pessoas — nas ruas empoeiradas das comunidades marginalizadas, nos becos e vielas esquecidas, nos espaços onde habitam os excluídos do sistema. São nesses lugares — desprezados e empurrados para as margens pela lógica dominante — que se encontram os verdadeiros santuários de vida, resistência e fé.

Esses pastores e pastoras não se identificam com o templo enquanto espaço de centralização do poder religioso. Ali, frequentemente, ocorrem disputas por prestígio, controle institucional e projeção pessoal. Para os pobres, o templo pode ser um lugar de acesso limitado, de exploração sutil e exclusão silenciosa. Enquanto o templo se ancora nos ritos, nas regras, nos dogmas e nas estruturas formais, o Jesus do Evangelho prefere as casas, as mesas, os caminhos e os encontros — lugares de comunhão e acolhimento (Mt 9.10-13; Mc 2.15-17).

Pastoras e pastores periféricos não se submetem às normas do sistema religioso dominante. Não são, necessariamente, os “oficiais” investidos por conselhos, consórcios ou instituições clericais. Não almejam os púlpitos mais altos nem os cargos bem-remunerados. Rejeitam as cadeiras de prestígio e poder (cf. Mt 23.6). Não desejam prestígio, mas proximidade; não buscam honrarias, mas relações de solidariedade. Inspirados pelo servo da Galileia, priorizam a simplicidade, a compaixão e a missão libertadora.

Estes profetas e profetisas vivem e anunciam uma pastoral da libertação. Atuam a partir de uma espiritualidade comunitária, horizontal, fundamentada na prática de leigos e leigas, discípulos e discípulas de Jesus, comprometidos com o Evangelho da graça, da partilha e da esperança. Vivem no meio do povo, com o povo e para o povo, sem perder a ternura e a radicalidade.

Por causa disso, causam alvoroço. São incômodos ao sistema religioso que se sustenta na lógica do poder. Ousam colocar os pobres no centro, priorizam os que sofrem e denunciam as estruturas opressoras com coragem profética. Não prestam contas ao sistema de dominação, mas respondem ao chamado do Reino de Deus, que está entre os pequenos (Lc 4.18-19; Lc 6.20). Por essa razão, são perseguidos, silenciados, excluídos. Representam uma ameaça constante à manutenção das hierarquias religiosas.

Diante disso, precisamos nos perguntar com seriedade:
Quantos de nós estamos dispostos a romper com o templo e seguir o caminho da libertação ao lado dos pobres?
Quantos temos coragem de abandonar os sistemas de dominação religiosa para mergulhar na realidade dos esquecidos, e ali construir, com eles, sinais do Reino?

É preciso lembrar que Jesus escolheu estar entre os marginalizados, não entre os senhores da religião. Quem o segue, inevitavelmente, será chamado a fazer o mesmo.



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