Defender o Retorno do AI-5 é Torturar o Cristo, é Levá-lo ao Flagelo Novamente

Marcos Aurélio dos Santos

A ditadura militar no Brasil ficou marcada na história como um período de horror e medo. Foram tempos sombrios, conhecidos como os "anos de chumbo" — tempos de opressão, tortura e morte. Muitos foram assassinados, e diversos corpos jamais foram encontrados. Algumas vítimas dessa cruel ditadura ainda estão vivas e testemunham as cenas de desespero e horror que vivenciaram. São pessoas que resistiram às torturas físicas e psicológicas, embora carreguem até hoje as profundas sequelas deixadas pelas diversas crueldades sofridas.

É especialmente doloroso reconhecer que muitos líderes de igrejas cristãs apoiaram a ditadura militar, chegando, inclusive, a entregar irmãos e irmãs de fé às forças de repressão. Tal postura causa profunda tristeza e indignação, pois representa uma traição aos ensinamentos do Cristo crucificado, cuja vida foi marcada pela defesa dos oprimidos e pela denúncia das injustiças.

O Ato Institucional nº 5 (AI-5) representou um dos mais brutais instrumentos autoritários implementados durante a ditadura. Seu objetivo era sufocar os direitos e as liberdades do povo. Com ele, o governo militar passou a ter o poder de fechar o Congresso Nacional, cassar mandatos políticos, censurar a imprensa e prender arbitrariamente qualquer indivíduo considerado "subversivo". O AI-5 fortaleceu órgãos como o DOI-CODI, centros de repressão onde milhares foram torturados e, em muitos casos, assassinados. Seus alvos principais foram os opositores políticos, jornalistas, estudantes e quaisquer cidadãos que ousassem questionar a legitimidade do regime.

Esse ato institucional refletia o desprezo pela vida, pela paz e pela dignidade humana. Era um instrumento nas mãos daqueles que exaltavam a barbárie e promoviam a desumanização da sociedade, tudo isso sob o falso pretexto de defender a “pátria amada” e de agir em nome de Deus.

Diante disso, é imprescindível afirmar que os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo devem trilhar um caminho oposto — o caminho da paz, da justiça e da democracia. Como voz profética no mundo, somos chamados a denunciar, com coragem e fé, qualquer tentativa de retorno ao autoritarismo e à violência. Afinal, não foi o próprio Cristo vítima de um sistema opressor que o perseguiu, prendeu, torturou e assassinou?

Jesus sofreu o flagelo, um método de tortura aplicado aos inimigos do Império Romano. Foi levado ao Gólgota e submetido aos horrores da crucificação — a mais cruel forma de execução utilizada por Roma. Seu movimento de libertação representava uma ameaça real ao sistema político-religioso de sua época, que o via com temor e ódio. Jesus denunciou as estruturas de poder corruptas, que oprimiam os pobres e aprofundavam a desigualdade social, especialmente por meio da exploração dos trabalhadores camponeses, da cobrança de impostos abusivos e do desprezo por doentes, viúvas e outras minorias marginalizadas.

Em tempos sombrios como os que o Brasil vivencia atualmente, é urgente refletir sobre o posicionamento de grande parte dos cristãos diante das declarações autoritárias de Bolsonaro e suas idéias fascistas. De que lado estamos? Do lado do Cristo torturado e assassinado ou do lado daqueles que exaltam a tortura, a violência e a morte? A quem estamos realmente seguindo?






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