Marcos Aurélio dos Santos
Ler a bíblia é escutar Deus em comunidade. Por isso, não deve ser lida de forma isolada, mas de maneira comunitária. É uma leitura contextualizada, com uma nova lente, em um contraponto às leituras fundamentalista que, no decorrer da história da igreja cristã, lê o texto ao pé da letra, sem os diálogos e aprofundamentos necessários para que se possa descobrir o que está por trás da palavra. A letra mata, diz Paulo, o apóstolo, por isso, assassinaram os profetas e Estevam, que foi vítima de linchamento por meio do apedrejamento com base em uma interpretação literal da lei no texto Hebraico. O fundamentalismos mata, é violento, o Evangelho trás vida, e vida em abundância.
A leitura e interpretação da Bíblia deve ser feita em comunidade porque o Espírito, que nos ajuda dando luz para compreender o texto é comunitário. Não se têm nada pronto, estabelecido, dogmatizado, sob imposição, mas todos e todas são convidados para a partilha da palavra em uma hermenêutica comunitária, livre de uma leitura colonizadora que impõe e oprime, que domina, que não dialoga.
A bíblia deve ser lida a partir do contexto de hoje, no lugar onde estamos. Não é um exercício teológico, nem acadêmico, nem filosófico, ainda que estes sejam importantes, contudo tenhamos como base uma leitura a partir da vida, em nosso contexto religioso, político, social, econômico e cultural. É a partir da vida do povo, sobretudo dos pobres que podemos ler a bíblia de maneira popular, sem os artifícios e reproduções engessadas do velho fundamentalismo oriundo das teologias européias e estadunidenses.
Ler a bíblia em comunidade, de maneira popular nos ajuda a entender o projeto libertador de Deus para o seu povo e fortalece nossa caminhada de libertação com os pobres. Por isso, é um exercício de escuta. Somos chamados para escutar Deus em comunidade e praticar a palavra, compreender seu projeto libertador a partir da vida do Jesus de Nazaré em sua caminhada com os excluídos.
Descobrir o que está por trás da palavra é uma tarefa longa, e requer de todos nós a prática da paciência. Como diz Frei Carlos Mesters a palavra de Deus não é como uma semente de alface, que logo germina, mas como a do Juazeiro, que leva muito tempo para produzir frutos. Nossa tarefa como leitor deve ser semelhante a de um agricultor, que espera com paciência a colheita das sementes que plantou no roçado. Aos leitores e leitoras da bíblia, é preciso oração e ajuda do Espírito para compreender o texto bíblico. Também é preciso escutar Deus e ouvir os pobres dentro de seu contexto de hoje. Um pé no chão, outro na bíblia, isto é, vida e bíblia.
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