Em suas peregrinações pelos diversos territórios da Galileia, Jesus de Nazaré, o homem subversivo e profético, fez muitos amigos e amigas. A maioria dessas pessoas pertencia às camadas marginalizadas da sociedade: pobres, excluídos, estigmatizados e desamparados — pessoas que o sistema social e religioso de sua época desprezava e relegava à invisibilidade. Jesus se aproximava de prostitutas, cobradores de impostos, bandidos, gentios, mulheres samaritanas (de um povo hostilizado pelos judeus), crianças rejeitadas, leprosos e possessos — todos considerados impuros e indignos de acesso ao templo ou ao favor divino.
O subversivo de Nazaré não se intimidava com as críticas dos religiosos legalistas, que se viam como guardiões da Lei e defensores da pureza ritual. Para esses, tais pessoas não passavam de pecadores incuráveis, indignos de perdão ou de inclusão na comunidade da fé. Contudo, Jesus respondia às críticas não com teorias abstratas, mas com ações concretas: curava, acolhia, perdoava e comia com os marginalizados. Dessa forma, instaurava uma nova lógica de misericórdia e solidariedade, contrapondo-se à ordem excludente e opressora vigente.
O caminho de Jesus traz consigo a Boa Notícia (Evangelho) de libertação para um povo subjugado pelas forças conservadoras do Sinédrio — um sistema que instrumentalizava a religião para dominar. Com base em interpretações fundamentalistas e legalistas das Escrituras, impunha sobre o povo um jugo religioso que produzia medo, alienação e insegurança espiritual. Como consequência, desenvolvia-se uma fé sem vida, desprovida de liberdade e de esperança.
Jesus, no entanto, anuncia um novo tempo: o tempo da graça e da libertação. Ensinou aos seus discípulos e discípulas um caminho de amor, justiça e liberdade. Em oposição ao fardo pesado da religião institucionalizada, declarou: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.30). Suas palavras não apenas confrontavam a religiosidade opressiva, mas apontavam para uma espiritualidade renovada — utópica, esperançosa, libertadora — voltada especialmente para os exaustos e vencidos pela vida.
O sistema religioso dominante impunha um conjunto de exigências impossíveis de serem cumpridas integralmente, sobretudo por aqueles que viviam à margem: os pobres, os doentes, os socialmente invisíveis. A eles restava apenas clamar pelo Deus da misericórdia — um Deus que, em vez de habitar palácios ou templos suntuosos, faz sua entrada na história humana nascido num estábulo, e trinta anos depois, entra em Jerusalém montado num jumentinho emprestado, anunciando um Reino de justiça e amor revolucionário.
O amor de Jesus é, por natureza, subversivo e revolucionário. Ele rompe as cadeias da opressão religiosa e social, liberta os cativos da alienação, acolhe os rejeitados e resgata a dignidade dos esquecidos. Não é um amor que visa autopromoção ou interesses egoístas; é um amor radicalmente inclusivo, cheio de compaixão e verdade. Foi esse amor que acolheu Bartimeu, o cego à beira do caminho; os dez leprosos; o paralítico de Betesda; a mulher samaritana no poço de Jacó; as crianças pobres, vítimas da guerra e da miséria; os pecadores e os publicanos.
Diante disso, somos interpelados: qual Jesus estamos seguindo? O das multidões alienadas ou o Jesus da Galileia, que caminha entre os pobres e marginalizados? Estamos ao lado dos “cidadãos de bem” que se autoproclamam defensores da moral e da lei? Ou caminhamos com os que sofrem exclusão, violência e opressão?
Seguir o Jesus de Nazaré é, antes de tudo, comprometer-se com os que estão à margem. É deixar-se transformar pelo amor que liberta, acolhe e denuncia toda forma de injustiça. É viver a fé como prática de solidariedade e de resistência profética.

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