No Caminho de Jesus de Nazaré: Fé, Esperança e Amor

O Seguimento de Jesus de Nazaré: Entre o Deus-Mercado e a Caminhada com os Pobres

Marcos Aurélio dos Santos 

Resumo: Este artigo propõe uma reflexão teológica e crítica sobre os sentidos do seguimento de Jesus de Nazaré no contexto contemporâneo da igreja evangélica brasileira. A partir de uma análise do discurso religioso dominante, marcado pela teologia da prosperidade, pelo fundamentalismo e pela adesão ao capitalismo, o texto propõe um retorno às raízes do Evangelho como caminho de libertação e solidariedade com os pobres e marginalizados.

1. Introdução O seguimento de Jesus de Nazaré tem sido, historicamente, interpretado a partir de diferentes lentes teológicas. No cenário atual, observa-se um crescimento significativo de perspectivas que associam a fé cristã à realização de desejos pessoais, à ascensão social e ao sucesso financeiro. Este fenômeno não é isento de implicações teológicas e políticas, sobretudo quando vinculado ao avanço das forças conservadoras no campo religioso.

2. O Cristo da Prosperidade e o Deus-Mercado Muitos líderes religiosos contemporâneos têm difundido uma imagem de Jesus voltada para os milagres, a prosperidade financeira e a valorização das hierarquias religiosas. Essa teologia, marcada pelo utilitarismo e pelo consumo, apresenta Deus como um agente que satisfaz vontades humanas mediante ofertas, pactos e barganhas. Essa lógica se sustenta na fusão entre religião e mercado, resultando na idolatria de um "deus-mercado" que se alimenta das dinâmicas do capitalismo neoliberal.

3. O Determinismo Religioso e o Legalismo Fundamentalista Paralelamente, há os que concebem o cristianismo como um sistema de regras, dogmas e ritos inflexíveis. Nessa visão, Deus é identificado com a Lei, sendo percebido como autoritário e determinista. O sofrimento social — como a fome, a miséria e a violência — é compreendido como parte de um plano divino inquestionável, o que desestimula o engajamento crítico e transforma a fé em instrumento de alienação.

4. A Religião do Templo e o Esvaziamento da Missão Social Tanto os adeptos do deus-mercado quanto os legalistas conservam uma relação simbiótica com o templo. A sacralização do espaço físico e da hierarquia institucional distancia a fé de sua dimensão comunitária e profética. Recursos são direcionados à construção de grandes edificações religiosas enquanto se ignora a realidade dos pobres, moradores de rua e excluídos.

5. O Caminho Revolucionário de Jesus Em oposição a essas leituras, o Evangelho revela um caminho pautado na fé, na esperança e no amor. O seguimento de Jesus é um chamado à partilha, à escuta, à denúncia profética e à construção de comunidades solidárias. Trata-se de um percurso incompatível com o egoísmo, a avareza e o personalismo religioso. Jesus se posiciona ao lado dos pobres, dos marginalizados e dos oprimidos.

6. O Cristo dos Pobres e a Caminhada Libertadora O verdadeiro seguimento de Jesus implica caminhar com os pobres — negros e negras vítimas do racismo, mulheres e crianças das periferias, indígenas e ribeirinhos ameaçados em seus territórios, trabalhadores do campo e da cidade, pessoas sem terra e sem teto. A fé cristã, nesse horizonte, não se manifesta no culto ao templo ou na rigidez moralista, mas na vida concreta e na luta pela justiça.

7. Conclusão Diante das distorções teológicas presentes em setores significativos da igreja, é urgente recuperar a radicalidade do Evangelho como Boa Nova aos pobres. O seguimento de Jesus não se encontra no luxo dos templos nem na promessa de milagres individualistas, mas na solidariedade ativa com os que sofrem. Ainda que se extingam todas as esperanças humanas, para os que seguem a Cristo, restará sempre Deus — e os pobres.

Palavras-chave: Seguimento de Jesus; Teologia da Prosperidade; Deus-mercado; Fundamentalismo; Justiça social; Igreja e pobreza.


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