Uma jumenta e um jumentinho emprestados. Em pequenos galopes de simplicidade, Jesus se aproxima de Jerusalém. Ramos retirados das árvores anunciam a chegada do Deus pobre; tecidos improvisados servem como tapete, em contraposição aos luxuosos adornos imperiais que acolhiam os governantes de Roma. Uma multidão de pobres aguarda, ansiosamente, a chegada do Messias libertador. Estão ali pescadores, camponeses, trabalhadoras e trabalhadores, mulheres, mendigos, doentes e crianças — vítimas da violência e da miséria que assolaram a Palestina no contexto pós-guerra. Assim se deu a entrada de Jesus de Nazaré em Jerusalém: o Deus pobre vindo da Galileia, livre, subversivo e libertador. Um Rei que não possui coroa de ouro adornada com pedras preciosas, mas sim uma coroa de espinhos cravada na cruz, conforme a vontade do Pai que o enviou.
A chegada de Jesus em Jerusalém esteve livre das aparatos protocolares típicos dos poderosos: não havia comitiva oficial, nem carros de luxo puxados por cavalos imponentes; tampouco havia trajes imperiais ou banquetes com autoridades religiosas e políticas. Sua entrada foi marcada pela simplicidade revolucionária, carregada de simbolismo profético, rompendo com as estruturas opressoras da religiosidade institucionalizada e do imperialismo romano. Assim, inaugura-se uma nova ordem: uma ordem que nasce do chão, da resistência popular, da fé encarnada entre os pobres.
A forma com que Jesus adentra a cidade central da Palestina constitui uma denúncia direta contra a ostentação e o acúmulo de poder promovido pelo império romano e pelo sistema político-econômico-religioso vigente no templo de Jerusalém. O imperialismo, sustentado pela aliança entre o poder militar romano e as elites religiosas — fariseus, escribas e demais líderes judaicos colaboracionistas — é confrontado pela presença daquele que vem da Galileia, carregando consigo a autoridade moral dos profetas e a liberdade dos filhos de Deus. Jesus denuncia com firmeza e clareza a opressão que recai sobre o povo, propondo, em contrapartida, um caminho de justiça e libertação.
Tal como os profetas e profetisas do Antigo Testamento, Jesus não profetiza a partir do templo ou do palácio. Ele não firma alianças com os poderosos, não se corrompe com os opressores, nem trai a missão recebida do Pai: proclamar as boas novas aos pobres, libertar os cativos, devolver a visão aos cegos e anunciar o ano aceitável do Senhor. Com coragem, ternura e subversão, aceita caminhar para a morte, a fim de inaugurar, por meio da cruz, a vida em abundância para toda a humanidade.
A entrada de Jesus em Jerusalém é mais do que um ato simbólico do passado — ela é uma profecia viva para os dias de hoje. Os impérios contemporâneos da opressão, sustentados por agendas neoliberais e forças político-religiosas ultraconservadoras, têm avançado com crueldade sobre os direitos do povo. Em nosso país, vivemos sob a ameaça constante de desmontes sociais, da criminalização dos pobres e da banalização da fé. Diante disso, a profecia de Jesus não deve ser relegada ao passado; ela clama por encarnação no presente, no contexto real das lutas populares, nas dores do cotidiano e nos clamores por justiça.
Por isso, após a práxis, celebremos a simplicidade, a coragem, a ternura, a resistência e a utopia. Celebremos o Jesus das comunidades, da jumentinha emprestada, do grito popular que não se cala, do Mestre que não tem onde reclinar a cabeça, do Deus que partilha o pão sem exigir contrapartidas nem impor condições. Celebremos o Jesus libertador, que caminha com os pobres, denuncia os poderosos e inaugura um novo Reino de justiça, amor e solidariedade.

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