Desigualdade Social e Opressão: A Profecia Está Viva


Marcos Aurélio dos Santos 

Em uma tarde de terça-feira me dispus a visitar a família de Joana. Joana mora com sua família em um bairro periférico na zona Norte de Natal, em uma casa pequena, com três cômodos, telhado velho, piso esburacada e paredes sem estrutura. A família do casal Joana e Carlos, que moram na casa é composta por oito pessoas. Dois filhos, três filhas e uma neta. Confesso que não sei explicar como uma casa com três cômodos consegue acomodar oito pessoas.
Ao chagar, foi recebido pelos irmãos Francisco e Fábio. Não foi uma recepção Alegre como de costume. Percebi em seus semblantes tristeza e um certo desespero. Também percebi que estavam mais magros e pálidos. Faltava-lhes energia. Logo fui informado que na casa havia falta de comida e remédios. O semblante triste dos meninos era fome. Não tinham o que comer. 
Joana não estava em casa. Em um ato de solidariedade estava no hospital cuidando do vizinho que estava prestes a enfrentar uma cirurgia de urgência. Neste dia, Joana enfrentou a burocracia e o descaso do poder público, pois não havia médico na urgência. Depois de muita insistência e protesto da parte de Joana, foi marcada a cirurgia.
A fome que pairava naquela família foi parcialmente amenizada por meio de uma mobilização humanitária a partir de uma rede de pessoas solidárias que ajudaram com mantimentos e remédios. Era um caso urgente, pois como bem disse o ativista Betinho, "quem tem fome tem pressa".
Essa experiência na periferia me levou a fazer perguntas inquietantes. Porquê há milhares de famintos em nosso país e ao mesmo tempo existe comida em abundância para uma ninoria de abastardos?  Porquê Joana mora em uma casa com três cômodos, em um terreno de quatro metros de largura e ao mesmo tempo os latifúndios roubam milhões de equitares de terra e constroem mansões?
Também pergunto porquê Joana ao levantar pela manhã não tem pão para seus filhos e filhas, enquanto nas confraternizações e festas nas igrejas tem mesa farta? Porque se constroem templos e não se importam com os que não tem teto; com os que moram debaixo de viadutos ou nas calçadas nos lugares urbanos?
Jesus de Nazaré, em sua caminhada libertária com os pobres não silenciou diante da opressão e exclusão do povo do seu tempo. Por essa e outras questões de injustiça foi preso, torturado e assassinado por dois poderes, o político e o religioso. As forças ultra conservadoras, de extrema direita se levantaram com ódio, pois Jesus era uma ameaça ao sistema opressor.
Em nossos dias, aos que se denominam cristãos é preciso perguntar. De que lado estamos? Do opressor ou dos pobres oprimidos pelas forças de um sistema neoliberal-capitalista de nosso tempo? A quem estamos servindo; ao Deus de amor e justiça, ou ao "deus mercado"?

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