A Leitura Popular da Bíblia e a Superação do Fundamentalismo Religioso


Marcos Aurélio dos Santos 

Aqui está a versão revisada do seu texto, com correções gramaticais, ortográficas e de pontuação, além de um aprimoramento do estilo e aprofundamento das ideias, em tom acadêmico e teológico:


O fundamentalismo cristão-religioso, em sua essência, não se abre ao diálogo. Assume uma postura de superioridade, sobrepondo-se a novos segmentos que pensam e agem de maneira distinta. Preso a um engessamento histórico, empenha-se zelosamente na preservação de velhos fundamentos, alheio aos movimentos históricos e sociais contemporâneos. Enquanto isso, o mal avança no mundo, ameaçando destruir não apenas a fé, mas também a democracia e os direitos arduamente conquistados ao longo das décadas. Diante desse cenário, surgem novos e complexos desafios para os cristãos e cristãs de hoje.

O fundamentalismo religioso apropria-se da Bíblia como se fosse seu único e legítimo proprietário. Realiza uma leitura literalista, superficial e descontextualizada do texto bíblico — desprovida de reflexão crítica e hermenêutica — com o objetivo de legitimar injustiças, violências, discursos de ódio, divisões e afirmações de superioridade moral e espiritual. Da mesma forma que se recusa ao diálogo, também silencia diante das múltiplas formas de injustiça que assolam os pobres, os marginalizados e os excluídos.

O ensinamento de Jesus de Nazaré propõe o amor como chave hermenêutica para a leitura e interpretação das Escrituras. Nele, aprendemos que, em tempos marcados pelo ódio e pela indiferença, somos chamados a perdoar, inclusive nossos inimigos mais cruéis, sem condições nem reservas.

Em uma sociedade que celebra a violência e banaliza a morte, os discípulos e discípulas de Jesus são convocados a promover a paz e a justiça como valores centrais da vivência cristã. Em tempos de polarização e construção de muros de intolerância, o Evangelho nos desafia a edificar pontes, construindo caminhos de diálogo e respeito mútuo, sustentados por laços de solidariedade e fraternidade.

É urgente reler o texto bíblico à luz da realidade atual. É no “aqui e agora” que se desenvolvem as lutas concretas da vida cotidiana, especialmente entre os povos historicamente oprimidos da América Latina. A Bíblia não pode continuar sendo lida com os "velhos óculos" da tradição dogmática e excludente. Esses óculos estão embaçados e já não permitem ver com clareza os sinais dos tempos e os clamores do povo.

Somente a leitura popular da Bíblia — feita em comunidade, com os pés fincados no chão da realidade, aberta ao sopro do Espírito e iluminada pela vida concreta dos pobres — permite escutar a voz de Deus que, como nos lembra o Êxodo, ouve o clamor do seu povo, vê o seu sofrimento e desce para libertá-lo (Ex 3,7-8).




Comentários