Religiosidade, Intolerância e o Caminho do Diálogo Amoroso: uma leitura profética à luz do Evangelho
Marcos Aurélio dos Santos
Resumo Este artigo propõe uma análise histórico-teológica da intolerância religiosa no contexto brasileiro, destacando a violência simbólica e física sofrida por religiões de matriz africana desde o período colonial até os dias atuais. A partir de uma leitura profética do Evangelho, particularmente do encontro de Jesus com a mulher samaritana (Jo 4.1-30), o artigo propõe caminhos para a construção de um diálogo ecumênico e amoroso como alternativa ao discurso fundamentalista excludente.
Palavras-chave: intolerância religiosa, diálogo, ecumenismo, religiões de matriz africana, Jesus de Nazaré
1. Introdução
A religiosidade brasileira é marcada por uma história de exclusão, preconceito e intolerância. Desde a colonização, observa-se um projeto de imposição religiosa por parte dos colonizadores portugueses, que aniquilaram as expressões espirituais dos povos originários e africanos. Essa intolerância histórica permanece viva no presente, sendo reatualizada por discursos religiosos fundamentalistas que demonizam religiões afro-brasileiras e outras expressões consideradas "não cristãs". Este artigo busca refletir sobre essa realidade à luz do Evangelho e propor um caminho de superação através do diálogo e do amor.
2. A origem colonial da intolerância religiosa no Brasil
A evangelização promovida no Brasil colônia foi baseada em um modelo opressor e colonizador. Aos povos indígenas e africanos foi negado o direito à sua expressão religiosa. A religião católica foi imposta como única forma legítima de espiritualidade, o que gerou um etnocídio religioso cujas marcas permanecem até hoje. Os cultos afro-brasileiros foram demonizados e empurrados para os subterrâneos da sociedade.
3. A intolerância religiosa nos dias atuais
A intolerância religiosa contemporânea manifesta-se por meio de discursos e práticas que criminalizam e estigmatizam as religiões de matriz africana. Dados indicam que religiões como a Umbanda e o Candomblé são as mais atingidas por atos de intolerância. Em 2017, foram registrados 66 casos envolvendo essas religiões, contra apenas cinco envolvendo igrejas evangélicas tradicionais. A religião cristã, em muitos de seus segmentos, contribui para a perpetuação desse estigma.
4. A resposta de Jesus: amor e diálogo como alternativa
O encontro de Jesus com a mulher samaritana (Jo 4.1-30) é um paradigma para a superação da intolerância. Jesus, ao dialogar com a samaritana, rompe com barreiras étnicas, religiosas e de gênero, propondo um modelo de relação baseado no amor, na escuta e na dignificação do outro. Em vez de exclusão, o que se vê é um movimento de acolhimento e reconciliação. A experiência dessa mulher a transforma em anunciadora de boas novas.
5. Novos paradigmas para o cristianismo brasileiro
Para romper com o ciclo de intolerância religiosa, é preciso um reposicionamento das igrejas cristãs. Um cristianismo autêntico precisa ser coerente com os ensinamentos de Jesus, promovendo a paz, a justiça e a dignidade humana. O caminho do diálogo ecumênico e inter-religioso, baseado na escuta e no respeito à diversidade, é uma exigência evangélica e profética.
6. Considerações finais
A história da intolerância religiosa no Brasil exige uma resposta profética. A prática de Jesus nos convida a construir pontes, não muros. O amor é o antídoto contra o discurso de ódio e o preconceito. O compromisso com a justiça, a paz e os direitos humanos deve orientar a missão da Igreja. Somente assim seremos fiéis ao Cristo que nos ensinou: "Amem-se uns aos outros como eu os amei" (Jo 13.34).
Referências
CEBI. A mulher samaritana (Jo 4.1-41). Disponível em: https://www.cebi.org.br/2014/03/05/a-mulher-samaritana-jo-41-41/
ESTADÃO. Brasil registra uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas. Disponível em: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-registra-uma-denuncia-de-intolerancia-religiosa-a-cada-15-horas,70002081286
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