Afinal, Quem é o Nosso Próximo?




Marcos Aurélio dos Santos 

Todos os dias nos encontramos com diversas pessoas pelos caminhos da vida, em todos os lugares. No trabalho, no ponto de ônibus, na escola, no mercado, na farmácia, na igreja onde congregamos e abraçamos uns aos outros e distribuímos saudações, na rua onde moramos. Também nos encontramos com amigos e amigas, parentes da família, enfim, sempre estamos passando por, ou nos encontrando com alguém. São os encontros inevitáveis da vida.


Nos diversos encontros da vida com as pessoas, há situações que para muitos de nós não é muito agradável ou interessante, principalmente em lugares periféricos onde vivem os que sofrem. Os indivíduos de algumas favelas, os moradores de rua, os mendigos que ficam nas portas dos restaurantes e nas calçadas, os bêbados, os desempregados, os catadores de lixo. São poucos os que desejam ter encontros com essas pessoas.

Preferimos estar perto dos que são parecidos com a gente, os do nosso grupinho, que vestem os mesmos tipos de roupas e comem as mesmas comidas e frequentam os mesmos restaurantes e shopping. Nos sentimos bem à vontade quando estamos acompanhados dos que frequentam e fazem parte do rol de membros de nossa igreja (de preferência que sejam de nossa denominação), dos que gostam das mesmas músicas, dos que vão aos mesmos cafés. Nos sentimos confortáveis com pessoas que não precisamos nos esforçar em um movimento de encontro para acolher e servir em alguma necessidade da vida.

A agenda gospel das igrejas sempre tem prioridades. Reuniões administrativas, cultos, acampamentos, encontros sociais, ensaios, grandes congressos, trabalho. Uma agenda que exclui os “diferentes de nós”. Nosso tempo é preenchido seguindo o ritmo e a lógica do consumismo do mercado religioso e do egocentrismo. Cuidar de si mesmo e ter sucesso e destaque midiático é prioridade.

Então, nos encontros da vida quem é o nosso próximo? Qual a pista que Jesus nos dá por meio de sua vida e ensino sobre esta questão? Na parábola do Bom Samaritano contada por Jesus, a misericórdia é a chave para ter um encontro com o próximo (Lc.10.37). Para Jesus, o nosso próximo é todo aquele que encontramos no sofrimento, é todo o indivíduo que independentemente de sua situação ou classe social, devemos acolher em amor.

Ao contrário dos religiosos (o levita e o sacerdote) que priorizaram em sua agenda exclusivamente no templo (Lc.10.31,32), devemos agir para fora dele. Os pobres e excluídos, os estrangeiros e estrangeiras, os órfãos, as viúvas e todos que sofrem opressão devem ser as pessoas que devemos priorizar nos nossos diversos encontros da vida. Encontrar o pobre é encontrar Jesus, o servo pobre, sofredor e humilde.   

Ser próximo tem seu eixo no amor concreto que se desprende e se afasta de todo sistema religioso que oprime. Sempre haverá situações em que seremos desafiados a saber de fato e de verdade quem é o nosso próximo. Se nos aproximamos de uma criança em situação de risco e oferecemos uma oportunidade de segurança, se cuidamos de idosos, alimentamos os famintos, educamos os analfabetos funcionais, oferecemos remédio aos doentes e principalmente quando lutamos ao lado do pobre por sua libertação do sistema opressor, encontramos o nosso próximo.   

Contudo se fomos indiferentes à situação de sofrimento das pessoas e amarmos apenas os que nos amam, nos sentindo confortáveis com a situação em que eles se encontram, o amor de Deus não está em nós e não aprendemos ainda quem é o nosso próximo. Neste sentido, não seriamos apenas religiosos semelhantes ao sacerdote e ao levita contados por Jesus na parábola do Bom Samaritano?

É a compaixão libertadora que nos move ao encontro do nosso próximo. Amar as pessoas que Deus nos confiou para cuidar nos faz entender a profundidade da questão. Compartilhar, ser comunitário, servir e não ser servido. Acolher a todos/as que vivem sob opressão nas Galileias da vida é tarefa para os discípulos e discípulas de Jesus.  

Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.  












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