"A Urgência do Combate ao Racismo na Igreja Evangélica Brasileira: Uma Perspectiva Teológica e Profética"
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão teológica e pastoral sobre a urgência de enfrentar o racismo dentro da Igreja Evangélica Brasileira. A partir de uma leitura contextual dos Evangelhos, da experiência histórica do povo negro no Brasil e do chamado profético da fé cristã, busca-se denunciar a omissão histórica das igrejas diante do racismo estrutural e religioso. Propõe-se, como caminho de cura, o arrependimento, a escuta ativa e o compromisso com a justiça e a reparação.
1. Introdução
O racismo não é apenas uma questão social: é uma ferida espiritual e teológica que atravessa a história do Brasil e da Igreja. Ignorá-lo é negar a encarnação do Evangelho em nosso tempo. A Igreja Evangélica Brasileira, marcada por uma teologia majoritariamente branca, eurocentrada e distante da realidade das periferias e favelas, precisa urgentemente rever sua postura frente à exclusão racial.
2. Um Cristo embranquecido: o apagamento histórico
A representação hegemônica de Jesus como um homem branco, de cabelos loiros e olhos claros, revela mais do projeto colonizador europeu do que da narrativa bíblica. Essa imagem elitizada não corresponde ao Jesus histórico — judeu, galileu, pobre e marginalizado (Jo 1.46; Lc 4.18-19). A perpetuação dessa imagem nas igrejas contribui para a exclusão simbólica e estrutural das pessoas negras, reforçando a supremacia branca também nos espaços de fé.
3. O silenciamento das vozes negras na Igreja
Quantos homens e mulheres negras ocupam cargos de liderança nas grandes denominações? Quantas escolas bíblicas dominicais tratam do racismo como pecado estrutural? Quantos seminários incluem autores negros e teologias negras em seus currículos? O silêncio é revelador. Como afirma o profeta Amós: "Odeiem o mal, amem o bem e estabeleçam a justiça" (Am 5.15). Não há neutralidade diante da opressão.
4. Racismo religioso: entre a ignorância e o ódio
O preconceito contra religiões de matriz africana é, muitas vezes, legitimado por interpretações distorcidas das Escrituras. Demonizar essas tradições, violentar seus espaços de culto e negar sua dignidade é um pecado contra a liberdade religiosa e contra a imagem de Deus presente em cada ser humano (Gn 1.27). A Igreja deve abandonar a postura colonizadora e abraçar o diálogo inter-religioso como expressão do amor cristão.
5. Um testemunho pessoal: entre memória e resistência
Venho de uma família afro-brasileira. Meus avós e parentes viveram em comunidades rurais, em casas de taipa, sustentando-se com a pesca e o cultivo da terra. Suas histórias de luta, fé e resistência marcaram minha infância e juventude. Essa memória não é apenas afetiva, mas também teológica: é na experiência concreta dos oprimidos que se revela o Cristo libertador (Mt 25.35-40; Êx 3.7-8).
6. O clamor das vítimas: lágrimas e profecia
Em um encontro ecumênico, vi um jovem chorar ao relatar sua dor diante do racismo religioso. Suas palavras ecoaram como denúncia e convite ao arrependimento: "Perdão por não acolher, por não ouvir, por não abraçar". Como Igreja, precisamos nos ajoelhar em humildade e confissão, como Neemias fez diante da culpa coletiva de seu povo (Ne 1.6-7).
7. O caminho: arrependimento e compromisso com a justiça
A Igreja precisa retornar ao amor revolucionário do Evangelho. Isso implica arrependimento sincero, confissão pública, escuta ativa das vozes negras e compromisso com a justiça. Não basta não ser racista — é preciso ser antirracista. Como afirmou Jesus: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos" (Mt 5.6).
8. Conclusão: tempo de profecia
Este é um tempo profético. Tempo de denunciar estruturas opressoras, tempo de restaurar a dignidade negada, tempo de proclamar o Jesus negro e periférico, solidário com os pobres, com os de pele escura e história silenciada. Como disse Martin Luther King Jr.:
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.”
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