Marcos Aurélio
dos Santos
“Seja a
atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a
que devia apegar-se; mas esvaziou-se
a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz. ” (Filipenses 2:5-8).
Um Deus muito humano que se
manifesta no meio do seu povo como servo de todos e todas. O Deus que decide
caminhar com os pobres, em comunidade, compaixão e partilha. O Jesus que viveu
em uma aldeia chamada Nazaré, da periferia da Galileia urge o Deus libertário,
amoroso e servo sofredor. É chegado um novo tempo, tempo de amor, subversão e
libertação.
Nesta passagem bíblica na carta
aos Filipenses, o apostolo Paulo descreve a pessoa Jesus Cristo como o servo
sofredor e humilde, que se fez homem, sujeito as mesmas dores, angustias e
sofrimentos do seu povo, que em sua humilhação, esvaziou-se de si, aceitando a
condição de um chamado para o serviço de amor em obediência ao Pai, para
cumprimento de seu ministério de serviço e libertação dos pobres e oprimidos,
como descreve o médico e evangelista Lucas:
"O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou
para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para
libertar os oprimidos. ( Lucas 4:18).
Paulo reafirma as palavras de
Lucas sobre o ministério libertário de Jesus de Nazaré. Jesus foi ungido pelo
Pai não para ser glorificado e servido pelo povo, ao contrário, foi enviado
pelo Pai para uma missão libertadora, em um rompimento radical com o sistema
político-religioso-opressor. Jesus aparece na Galileia com uma proposta
subversiva, proclamando as boas novas de libertação aos aprisionados, servindo
as pessoas, confrontando os poderes da religião e do estado, juntando-se a elas
em um movimento libertador.
Segundo os evangelhos, Jesus
inicia seu ministério na periferia (Galileia) em um contexto de desigualdade e
opressão. Sob o domínio de Roma, com o apoio das lideranças de Jerusalém, o
povo estava vivendo tempos difíceis onde o direito humano estava sendo usurpado
pelos poderes dominantes.
Podemos citar alguns dos
diversos casos como o do cego de Jericó, que mendigava migalhas na entrada da
cidade (Lc.18: 35), do aleijado que pedia esmolas na porta do templo, lugar
onde centralizava-se o poder opressor (At. 3:2), dos leprosos que viviam sob
constante exclusão (Mt. 11:15), da corrupção no sistema tributário que gerava
enriquecimento ilícito em detrimento do aumento da pobreza (Lc.20: 22; Lc.
19:8) da usurpação do direito à terra (Mt. 5: 5) da fome e a sede entre os
pobres, como também o desprezo aos estrangeiros (Mt. 25:35).
Jesus é o Messias libertador! A
boa nova do reino não está reduzida a uma espiritualização, mas em um
compromisso de amor pelos pobres. Jesus não se ausentou diante do sofrimento do
povo, Ele entra na história num envolvimento concreto com a situação de
sofrimento e dor do povo. A injustiça aos pobres, a opressão aos mais fracos e
a exclusão estava dentro da pauta libertária de Jesus. Sua resistência e luta
ao lado dos pobres o levou à prisão, tortura e morte de cruz.
Essa nova espiritualidade
humanizadora de Jesus nos remete aos profetas hebraicos que diante de um
contexto de injustiça se posicionam contra os opressores, assumindo a opção
pelos mais desfavorecidos, denunciando o acumulo de riqueza, escravidão,
pobreza e outros cenários de desigualdade. Jesus aparece nos evangelhos como o
maior dos profetas, assumindo de forma humilde os desígnios do Pai, em
subversão, obediência e amor.
Na recomendação de Paulo ao
Filipenses, ele desafia a comunidade cristã a imitar o Jesus de Nazaré. “Seja a atitude de
vocês a mesma de Cristo Jesus. ” (Fp. 2:5). A vida de humildade e
serviço de Jesus é o exemplo para os discípulos e discípulas, como Ele mesmo
disse no momento do lava pés:
“Pois bem, se eu, sendo Senhor
e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos
outros. ” (João 13:14).
Essa mensagem bíblica de
libertação e serviço não paralisou na história, nem tão pouco se limitou ao
tempo dos profetas e evangelistas. Ela se contextualiza hoje, e, deve ser
interpretada a partir da vida, do sofrimento das pessoas, da opressão e desigualdade
que permeia entre o povo em nossos dias. Se somos discípulos de Jesus, como não
lutar, como não viver em comunidade e partilha? Por ventura não fomos chamados
para o ministério de amor libertário, de serviço às pessoas que Deus nos
confiou para cuidar? Não é o nosso alvo sermos imitadores e imitadoras de
Jesus? Que sejamos discípulos e discípulas do caminho, que possamos ir ao
encontro do pobre.
Sobre
o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista
Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador
da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do
Espaço Comunitário Pé no Chão.
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