Marcos Aurélio dos Santos
Por várias décadas a igreja
brasileira vem se alimentando da teologia colonial-fundamentalista. Se fartou
com sua doutrina sistematizada, imperialista, fechada ao diálogo e fiel aos
mandatos do conservadorismo e fundamentalismo religioso oriundos da Europa e
EUA. Desde a colonização do Brasil, a teologia fundamentalista não admite ser
questionada por se achar superior, detentora da verdade, perfeita e livre de
erros teológicos, considerando-se a mãe de todas as teologias, sob alegação de
ser a única verdade, caracterizando-se como um tipo de canonização, se
sobrepondo às novas teologias progressistas que tem se aproximado de algumas
das igrejas brasileiras.
Não admite mudanças em sua
estrutura pois está fundamentada em dogmas doutrinários reproduzido por velhos
teólogos intocáveis e inquestionáveis. Essa é a teologia mofada. Na sua
velhice, infelizmente deu o mofo em seus fundamentos pois não teve ainda a
humildade e sensatez de se mover para lugares arejados, para espaços livres na
busca de uma nova reflexão, a partir de novos diálogos libertários.
Por se moldar ao
fundamentalismo e conservadorismo, a teologia colonial-fundamentalista por
vários séculos não conseguiu enxergar o contexto e a história de vida das
pessoas, como também os múltiplos desafios onde ela está situada. A saber: Os
desafios sociais, políticos, econômicos e culturais de nosso povo,
contentando-se às formulações sistematizadas de doutrinas denominacionais na
construção de um modelo alinhando-se com as reproduções teológicas de gabinete,
distante da realidade de hoje, contribuindo para o fortalecimento das forças
conservadoras dos poderes dominantes da religião instalados na maioria das
igrejas brasileiras.
A teologia mofada não abre mão
de uma leitura fundamentalista da bíblia. Uma interpretação literal é a base.
Se debruça nas interpretações literais do texto bíblico sem levar em conta a
vida, a vivencias das pessoas, suas histórias, cultura, hábitos, prazeres, modo
de vida, classe social, direitos, relações políticas, relações de poder,
economia e etc.. Em interpretações mais extremas se apropriam indevidamente do
texto bíblico para sustentar o patriarcalismo, a violência, a privação do livre
pensamento, a dominação, a homofobia, o racismo, a hierarquia de poder no meio
clerical, a exploração, o machismo. A teologia mofada do fundamentalismo
religioso tem o poder de estragar o belo que está por traz da palavra.
Como enfrentar a teologia
fundamentalista? O teólogo Leonardo Boff nos ajuda a encontrar
caminhos excelentes. Em Seu artigo “Como Enfrentar o Fundamentalismo” ele diz:
“Cada um é portador de verdade,
mas ninguém pode ter o monopólio dela, nem uma religião, nem uma filosofia, nem
um partido político, nem uma ciência. Todos, de alguma forma, participam da
verdade. Mas podem crescer para uma compreensão mais plena da verdade, na
medida em que se relacionam. Bem dizia o poeta espanhol António Machado: “Não a
tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos
juntos, no diálogo e na recíproca relacionalidade, então mais e mais desaparece
a minha verdade para dar lugar à nossa Verdade, comungada por todos.”
Essa Frase de Boff nos anima e
mostra o caminho, que é o caminho do diálogo sincero entre as teologias, livre
da tentação de sermos monopolizadores da verdade, mas participantes dela. É
preciso se valer do que é bom no relativismo pois defender a nossa verdade em
ouvir outras verdades é a pior das decisões. Uma reação de ataque com a
intenção de destruir o pensamento teológico oposto, por mais que este seja
prejudicial para a igreja, deve ser respondido com a construção de novas
teologias progressistas, em diálogo aberto, que possam ajudar a igreja a
refletir e agir diante de um contexto de desigualdade e exclusão. É preciso
saber também que as práticas de libertação não dependem exclusivamente de uma
teologia, mas da força do Espírito que capacita homens e mulheres na luta
libertária, na busca de uma nova espiritualidade integral.
Urge fazer teologia a partir da
vida, na caminhada com o pobre, lendo a bíblia em conexão com os desafios de
hoje e seu contexto, a partir de uma leitura popular. Como diz o nosso querido
Frei Carlos Mestres: “Um Pé no Chão, Outro na Bíblia. ”
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