A Teologia Mofada e os Desafios Para uma Práxis Latinoamericana


Marcos Aurélio dos Santos 

O Desafio à Teologia Colonial-Fundamentalista: Por uma Espiritualidade Libertadora na Igreja Brasileira

Resumo: O presente artigo propõe uma análise crítica da influência da teologia colonial-fundamentalista na igreja brasileira e apresenta a urgência de uma teologia contextual, libertadora e dialógica. A partir de uma abordagem teológica e sociopolítica, denuncia-se a permanência de estruturas dogmáticas que impedem o diálogo e reproduzem violências simbólicas e sociais. Em contraposição, defende-se a construção de novas teologias progressistas que se originem da vida concreta do povo, a partir da escuta do clamor dos pobres e do compromisso com a justiça. O artigo conclui com a proposta de uma espiritualidade integral e libertadora, alicerçada na prática do Evangelho e na força do Espírito.

Palavras-chave: Teologia fundamentalista, espiritualidade libertadora, diálogo teológico, justiça social, igreja brasileira.

1. Introdução A história da teologia cristã no Brasil é marcada pela presença predominante de uma teologia colonial-fundamentalista, importada da Europa e dos Estados Unidos, que se consolidou durante e após o período colonial. Essa teologia caracterizou-se pela sistematização doutrinária, conservadorismo hermenêutico e fidelidade aos paradigmas eurocêntricos, distanciando-se das realidades sociopolíticas do povo brasileiro. O objetivo deste artigo é propor uma crítica a essa teologia envelhecida e sugerir alternativas teológicas que emerjam da realidade concreta das comunidades marginalizadas e oprimidas.

2. A Teologia Colonial-Fundamentalista: Origem e Características Essa teologia se apresenta como a detentora exclusiva da verdade, isenta de falhas e avessa ao questionamento. Fundamentada em dogmas reproduzidos por teólogos considerados inquestionáveis, ela ignora o contexto social, político, econômico e cultural onde atua. Sua leitura literalista da Bíblia serve frequentemente para justificar estruturas opressoras como o patriarcalismo, o racismo, a homofobia e o autoritarismo clerical. Trata-se de uma "teologia mofada", envelhecida e incapaz de dialogar com os desafios contemporâneos. Tal abordagem promove uma espiritualidade de obediência cega, em detrimento de uma fé viva, crítica e libertadora.

3. A Necessidade de Novas Teologias em Diálogo Diante da falência da teologia colonial, propõe-se uma nova forma de fazer teologia: aberta ao diálogo, sensível à vida do povo e comprometida com a justiça. Leonardo Boff, teólogo da libertação, contribui com essa proposta ao afirmar que nenhuma tradição detém o monopólio da verdade. O caminho proposto é o da construção coletiva da verdade teológica, na escuta mútua e na abertura ao outro. Como disse o poeta Antonio Machado: “Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a.” As novas teologias devem ser formuladas a partir das realidades locais, com o pé no chão da vida e o outro na Bíblia, como afirma Frei Carlos Mesters.

Nesse sentido, a teologia deve nascer da prática, da escuta das comunidades, das experiências de dor e esperança, e não apenas de gabinetes teológicos distantes da realidade. É preciso fomentar uma hermenêutica libertadora que questione estruturas de opressão e resgate o valor da experiência vivida como locus teológico legítimo.

4. Espiritualidade Libertadora: Caminho da Profecia e da Justiça A espiritualidade cristã libertadora propõe um retorno ao Evangelho vivido e encarnado na realidade dos pobres. Não se trata de uma espiritualidade alienante, mas profética, que denuncia as estruturas de morte e anuncia a vida em abundância. Essa espiritualidade rompe com o individualismo e constrói comunidades fraternas e solidárias, comprometidas com a transformação social. É uma espiritualidade que se manifesta na prática da justiça, no engajamento político e na luta pela dignidade humana.

Nesse horizonte, a espiritualidade libertadora não se restringe a práticas devocionais privadas, mas se manifesta no compromisso ético com a justiça e a paz. Conforme Jeremias 22:16: “Ele defendeu a causa do pobre e do necessitado, e assim tudo corria bem. Não é isso que significa conhecer-me? —diz o Senhor.” O conhecimento de Deus é, portanto, inseparável do compromisso com os pobres.

5. Considerações Finais A superação da teologia colonial-fundamentalista exige coragem, discernimento espiritual e compromisso profético. O desafio que se impõe à igreja brasileira é o de abandonar estruturas envelhecidas e abrir-se ao sopro do Espírito, que conduz à construção de uma teologia encarnada, plural e libertadora. Somente assim será possível viver uma fé cristã relevante, transformadora e fiel ao projeto do Reino de Deus, onde habita a justiça e o amor. A caminhada teológica precisa estar comprometida com a realidade dos empobrecidos, reconhecendo que as práticas de libertação nascem da vivência comunitária e da inspiração do Espírito.

Referências BOFF, Leonardo. "Como enfrentar o fundamentalismo". Disponível em: https://leonardoboff.org/2020/12/13/como-enfrentar-o-fundamentalismo/. Acesso em: 22 abr. 2025. MESTERS, Carlos. "Um pé no chão, outro na Bíblia: Método de Leitura Popular da Bíblia". São Paulo: Paulus, 2002. BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Amós 5:11-12; Jeremias 22:16. GUTIÉRREZ, Gustavo. "Teologia da Libertação: Perspectivas". São Paulo: Vozes, 1987. ASSMANN, Hugo. "Teologia desde a práxis de libertação". Petrópolis: Vozes, 1976. SOBRINO, Jon. "Jesus, o libertador: A história de Jesus de Nazaré". São Paulo: Paulus, 1992.



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