Ecumenismo: práticas de amor, acolhimento e fé

Marcos Aurélio dos Santos

“Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos.” (Colossenses 3:11).

A prática do ecumenismo é uma tarefa não muito fácil de se viver. É preciso reconhecer as limitações, que ainda há muita resistência entre os seguimentos cristãos em construir novos diálogos promissores, que de fato resultem em uma aproximação concreta entre as pessoas nos diversos seguimentos de confissão cristã. Há muitas barreiras e serem superadas, sobretudo a prática do proselitismo, que infelizmente resulta em competição e defesa de nossas práticas, ritos, códigos, doutrinas e liturgias. 

Aos que pretendem seguir na caminhada ecumênica, um passo importante é a escuta, no acolhimento e respeito em amor. As palavras do apóstolo Paulo aos irmãos e irmãs da comunidade de Colossos caminham na direção do amor acolhedor do Jesus de Nazaré, que rompe as barreiras do preconceito e das diferenças, apontando para uma comunhão em uma diversidade amorosa, de fraternidade e partilha. Na linguagem paulina, devemos nos revestir de amor, perdão, mansidão, misericórdia; mutuamente, que é o vínculo na busca da maturidade. Cristo está em todas e todos (Colossenses 3: 12-14). 

No caminho ecumênico, é desconstruído a velha ideia de que o corpo de Cristo se limita apenas aos do nosso clã, aos da nossa congregação ou instituição. Ora, Cristo não está dividindo, jamais pode ser, pois em cada um/a, habita o Espírito do próprio Cristo, que por natureza é diverso, comunitário e plural. Cristo é unidade em meio à diversidade. Por isso, mais uma vez, Paulo insiste no tema, agora aos da comunidade de Roma, que em sua carta, ensina sobre a importância da diversidade no corpo de Cristo. Portanto todas e todos são um só corpo e membros uns dos outros (Romanos 12: 5). 

O ecumenismo causa um certo medo em grande parte das lideranças cristãs. Temem pela perda de adeptos de suas denominações, por isso, em espírito de disputa, ensinam a prática do proselitismo e a exaltação ao denominacionalismo extremo, o que tem causado divisão e individualismo. Temos visto algumas tentativas, algumas até positivas, contudo se limitam a meros encontros formais, sem nenhum envolvimento concreto que gere uma prática que possa de fato unir na diversidade.

A prática do ecumenismo é uma vivência comunitária e animadora, é um chamado para fazer. Vivenciamos essa prática a partir do ano de 2016, junto às Comunidades Eclesiastes de Base (CEBs) e o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) na comunidade Periférica de Jardim Progresso, Zona Norte de Natal RN. Juntos, realizamos no período de dois anos a escola bíblica popular que acolheu católicos e evangélicos, em uma perspectiva ecumênica, realizando um trabalho de base com os moradores da comunidade, lugar com o mais alto índice de violência da capital potiguar.

Para os que tem trilhado neste caminho, tem sido uma experiência de grande relevância, pois tem produzindo bons frutos, sobretudo na prática do ensino bíblico, acolhimento, solidariedade, esperança e fé. Essa vivência ecumênica está acontecendo hoje. É uma realização que vai muito além de um encontro formal. Irmãos e irmãs de fé têm construído uma história de caminhada com os pobres, com pé no chão, em uma luta libertária no Jesus de Nazaré. Nossa teologia, denominações e doutrinas ficaram em segundo plano, pois em tempos sombrios em que vivemos, o mais urgente é unir-se em um só corpo, no caminho de libertação. 

O ecumenismo é a superação das divisões e dos projetos individualistas de poder. Nele, podemos vivenciar o quanto Deus caminha na diversidade, na liberdade e no amor, somos levados pelo sopro do Espírito para onde ele quer. Espírito que é acolhdor e comunitário, que nos ensina sobre diálogo, respeito, compaixão, solidariedade, comunhão, resistência e fé. 








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