Marcos Aurélio Dos Santos
Onde está a voz revolucionária e libertadora entre o povo; junto a maioria que sofre, que são os pobres desse país? Onde acontecem os movimentos, as ações e a luta pela libertação? Que linguagem estamos usando para dialogar com os pobres, com milhões de trabalhadores e trabalhadoras para a construção de uma base popular? Creio que são perguntas urgentes que a esquerda precisa fazer a si mesma, a partir de uma autocrítica.
E já podemos começar dizendo que a linguagem da esquerda é acadêmica, e portanto não chega ao povo. Detêm-se aos debates no campo da intelectualidade, dos saberes. Em alguns casos, forma-se uma arena de gladiadores para uma disputa para ver quem sai vencedor. Ora, é bom lembrar as palavras de Paulo Freire que diz: "Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes." Bom mesmo é que todo debate se transforme em prática concreta e libertadora, que possa acontecer a partir do povo e com o povo. Não seria um desperdício de tempo gastar energias nas redes sociais para bater boca com um discípulo de Olavo de Carvalho, ou se intitular o mais progressista? Não seria essa a síndrome da extrema direita conservadora?
É preciso converter a linguagem acadêmica em voz popular, de maneira que uma criança ou um analfabeto funcional ou não, possa assimilar com clareza o que nós queremos dizer e fazer, como uma linguagem de uma mãe falando ao filho, ou a de Jesus falando aos seus discípulos e discípulas. Mas não apenas falar, mas também ouvir os pobres. Suas lutas, alegrias e tristezas, desafios e esperança. São os que mais sabem da realidade do povo. Para isso, se faz necessário descentralizar os movimentos nos espaços urbanos, nos bairros de classe média e caminhar para as ruas empoeiradas das periferias, das regiões rurais, nos morros e favelas, junto aos trabalhadores e trabalhadoras do nosso país. Também é preciso dizer que esse processo deve começar a partir de cada um de nós, numa conversão interna, numa consciência de vida comunitária e fraterna.
A esquerda precisa resgatar a coragem, a dignidade e a linguagem de Chico Mendes, que lutou ao lado dos pobres pelo cuidado com a terra, ou a de Lula como líder operário em sua incansável caminhada com os trabalhadores/as, e de tantos outros que começaram a partir do povo e com o povo. As eleições de 2018 demonstraram que a esquerda falhou em não construir um projeto de consciência de base com o povo, e o resultado nas urnas, apesar das mentiras do atual governo, revelou que milhares de pobres votaram sem consciência política, levados pelo engano e alienação. Muitos votaram contra seus próprios direitos. Não foram politizados.
Que façamos uma auto crítica séria, com uma proposta concreta, que a academia se converta em rua e voz popular, que ocupe os lugares baixos, é preciso descer. Que possamos reconstruir nossa frágil democracia a partir do povo e com o povo.
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