Marcos Aurélio dos Santos
Segundo a última pesquisa do Data
Folha, mais de 40% dos evangélicos irão votar em Bolsonaro. Uma quantidade
bastante expressiva dos que professam a fé cristã evangélica, decidiram optar
por um candidato fascista. Milhares de evangélicos estão seguindo o “voto de
cajado”, ou seja, estão sendo “orientados” por seus pastores a votar no
candidato defensor da moral e dos bons costumes, defensor da família e dos “cidadãos
de bem”, para estes eleitores, Bolsonaro é o candidato que irá destruir os demônios que estão
atuando no meio progressistas da esquerda. Esse é o discurso que permeia nos púlpitos,
cartilhas e reuniões de várias denominações evangélicas no Brasil.
Mas que igreja é essa que
abertamente apoia um candidato que destila ódio e preconceito? Qual a sua história
e posicionamento e comportamento na política e na vida das pessoas? Quais são
as motivações que levam uma igreja a apoiar um candidato que defende a tortura,
a violência, o racismo, a segregação aos pobres e a morte?
É preciso dizer que os líderes
dessas igrejas que estão apoiando a extrema direita na disputa pelo poder no
planalto, estão sendo motivados pelo mesmo espírito conspirador e opressor dos
tempos da ditadura de 1964. Os pastores de hoje, representam a figura dos
mesmos pastores que, por amor ao poder e riqueza, motivados por interesses espúrios,
entregaram muitas das ovelhas de Jesus aos militares para serem torturadas,
exiladas e mortas. Cinquenta e quatro anos se passaram e muitos dos nosso Irmãos
e irmãs levam com dor e graves sequelas, físicas e psicológicas, os resultados
da tortura daquela época.
É preciso dizer que essas mesmas
igrejas, hoje se une as forças de extrema direita porque se esqueceu dos
pobres. Seus pastores se renderam aos encantos do neoliberalismo econômico,
ensinaram aos membros de suas igrejas que a ostentação, o dinheiro e a riqueza
são mais importantes que o evangelho, e que os pobres são impostores e estão
predestinados a morrer na miséria. Essa mesma igreja é a do assistencialismo
que distribui cestas básicas e sopa aos pobres para que em troca, passem a ser
membros de sua congregação para serem oprimidos e explorados por meio de uma fé
baseada em barganha.
É preciso dizer que essas mesmas
igrejas são as que impõem uma doutrinação alienante, impedindo seus membros de
pensar e decidir por suas escolhas, quer políticas, quer teológicas. É a igreja
da fé engessada, avarenta, das multidões, também é a do fundamentalismo mofado
que se denomina dono da verdade divina, que não admite o diálogo mas preferem
manter-se escondidos em seus pequenos guetos de mediocridade e alienação. É a
igreja dos bairros nobres, dos templos de luxo, dos pastores de roupas finas e
sapatos de bico fino, com vidraças e seguranças nas portas para impedir a
entrada dos pobres.
Essa igreja que apoiou os
horrores da ditadura de 64, que aliena seus seguidores e oprime os pobres, é a
mesma que hoje tem se mantido a favor dos desmontes dos direitos sociais do povo.
Seus líderes estenderam a destra ao governo Temer para apoiar as maldades imputadas
na reforma trabalhista, nos direitos dos estudantes, no teto de gastos, na
redução do salário mínimo, no direito à moradia e muitos outros males que
retiram os direitos do nosso povo.
O apoio maciço dos evangélicos ao
candidato Bolsonaro apenas revela o que essa igreja sempre foi. Não há nada de
novo. O discurso de ódio, violência e segregação aos pobres exaltado pelo candidato
de extrema direita, soa nos ouvidos dos membros dessas igrejas como um tom de concordância
pois a própria história da igreja releva o quanto ela se afastou do Evangelho
de jesus de Nazaré.
Que o Senhor tenha misericórdia,
pois sempre há lugar para o arrependimento.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.
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