Que Igreja é Essa Que vai Votar em Bolsonaro nas Eleições de 2018?



Marcos Aurélio dos Santos 

Segundo a última pesquisa do Data Folha, mais de 40% dos evangélicos irão votar em Bolsonaro. Uma quantidade bastante expressiva dos que professam a fé cristã evangélica, decidiram optar por um candidato fascista. Milhares de evangélicos estão seguindo o “voto de cajado”, ou seja, estão sendo “orientados” por seus pastores a votar no candidato defensor da moral e dos bons costumes, defensor da família e dos “cidadãos de bem”, para estes eleitores, Bolsonaro é o candidato que irá destruir os demônios que estão atuando no meio progressistas da esquerda. Esse é o discurso que permeia nos púlpitos, cartilhas e reuniões de várias denominações evangélicas no Brasil.

Mas que igreja é essa que abertamente  apoia um candidato que destila ódio e preconceito? Qual a sua história e posicionamento e comportamento na política e na vida das pessoas? Quais são as motivações que levam uma igreja a apoiar um candidato que defende a tortura, a violência, o racismo, a segregação aos pobres e a morte?

É preciso dizer que os líderes dessas igrejas que estão apoiando a extrema direita na disputa pelo poder no planalto, estão sendo motivados pelo mesmo espírito conspirador e opressor dos tempos da ditadura de 1964. Os pastores de hoje, representam a figura dos mesmos pastores que, por amor ao poder e riqueza, motivados por interesses espúrios, entregaram muitas das ovelhas de Jesus aos militares para serem torturadas, exiladas e mortas. Cinquenta e quatro anos se passaram e muitos dos nosso Irmãos e irmãs levam com dor e graves sequelas, físicas e psicológicas, os resultados da tortura daquela época.

É preciso dizer que essas mesmas igrejas, hoje se une as forças de extrema direita porque se esqueceu dos pobres. Seus pastores se renderam aos encantos do neoliberalismo econômico, ensinaram aos membros de suas igrejas que a ostentação, o dinheiro e a riqueza são mais importantes que o evangelho, e que os pobres são impostores e estão predestinados a morrer na miséria. Essa mesma igreja é a do assistencialismo que distribui cestas básicas e sopa aos pobres para que em troca, passem a ser membros de sua congregação para serem oprimidos e explorados por meio de uma fé baseada em barganha.

É preciso dizer que essas mesmas igrejas são as que impõem uma doutrinação alienante, impedindo seus membros de pensar e decidir por suas escolhas, quer políticas, quer teológicas. É a igreja da fé engessada, avarenta, das multidões, também é a do fundamentalismo mofado que se denomina dono da verdade divina, que não admite o diálogo mas preferem manter-se escondidos em seus pequenos guetos de mediocridade e alienação. É a igreja dos bairros nobres, dos templos de luxo, dos pastores de roupas finas e sapatos de bico fino, com vidraças e seguranças nas portas para impedir a entrada dos pobres.
Essa igreja que apoiou os horrores da ditadura de 64, que aliena seus seguidores e oprime os pobres, é a mesma que hoje tem se mantido a favor dos desmontes dos direitos sociais do povo. Seus líderes estenderam a destra ao governo Temer para apoiar as maldades imputadas na reforma trabalhista, nos direitos dos estudantes, no teto de gastos, na redução do salário mínimo, no direito à moradia e muitos outros males que retiram os direitos do nosso povo.  

O apoio maciço dos evangélicos ao candidato Bolsonaro apenas revela o que essa igreja sempre foi. Não há nada de novo. O discurso de ódio, violência e segregação aos pobres exaltado pelo candidato de extrema direita, soa nos ouvidos dos membros dessas igrejas como um tom de concordância pois a própria história da igreja releva o quanto ela se afastou do Evangelho de jesus de Nazaré.

Que o Senhor tenha misericórdia, pois sempre há lugar para o arrependimento.  

Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.  

   


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