A Combinação de Cristianismo e Fascismo Entre os Evangélicos



Marcos Aurélio dos Santos

O mal está avançado no Brasil, e isto deve ser motivo de profunda preocupação, indignação e inquietação. Aumento da fome, avanço da pobreza extrema, desemprego, crescimento da violência contra a população negra, camponesa, indígena, LGBT`s, mulheres e crianças. O fascismo que estava escondido nos porões escuros desde a ditadura de 64 emerge nestes dias como nunca visto. O cristofascismo  (mistura de cristianismo e fascismo) manifesta-se claramente nas falas desastrosas e cheia de ódio de Bolsonaro como também nas práticas de muitos de seus seguidores, nos discursos raivosos e moralistas dos coronéis da fé representados por Silas Malafaia e Marco Feliciano, reforçado com o forte apoio da “hipocrisia sutil” dos históricos fundamentalistas de extrema direita. A intolerância, a homofobia, o ódio, a violência, o autoritarismo, a opressão. A exaltação da maldade está se multiplicando de maneira assustadora em diversos lugares do nosso país.

Como é bem característico do cistofascismo, legitimam de maneira escrupulosa seus discursos agressivos e raivosos e ações destruidoras em nome da “família tradicional”, em um exagerado “zelo” pela preservação dos valores morais. Também do “amor à nação” para exaltar um falso patriotismo, apropriam-se “um puritanismo extremo” capaz de se sobrepor a tudo e a todos que são contrários a seus princípios, leis e doutrinas, que de maneira alienante o fazem em nome de Deus. É uma repetição perigosa e contínua do que vem acontecendo recentemente como nos EUA por meio do Donald Trump com seu discurso arrogante, segregacionista e de ódio aos imigrantes mexicanos; com Mauricio Macri na Argentina e sua economia neoliberal que assola os pobres e exalta os ricos; com o conservadorismo de Iván Duque que ameaça o acordo de paz com as FARC na Colômbia; ou ainda o crescimento da extrema direita na Europa com seu discurso anti-imigração contra os refugiados.  

É preciso dizer que este triste cenário político no Brasil se dar muito ao apoio de um determinado seguimento de pastores evangélicos, o que é preocupante e lamentável. Ora, não foi aos pastores, a exemplo dos profetas que Deus confiou a missão de promover o reino de paz e justiça? Não foi aos pastores que Deus entregou seu rebanho para cuidar com dedicação, serviço e amor? Não foram os pastores que Deus enviou para o meio de lobos para protegê-las das feras devoradoras do neoliberalismo, do cistofascismo com seu totalitarismo e imperialismo, do engano dos supostos “evangelhos” que oprimem e excluem os mais pobres? Por venturas os pastores não deveriam dar continuidade do que fizeram os profetas de Deus? Estes não foram chamados para denunciar com voz profética o avanço do mal em nosso país?

Mas lamentavelmente o que temos visto é o inverso. Muitos (não todos) decidiram trilhar pelo caminho do silêncio. Estão escondidos e calados, apenas observam o avanço e as perversidades praticadas fascismo sem nada fazer. Como disse Martin Luther King, é o “silencio dos bons”. A covardia e o medo no qual foram acometidos Pedro e os discípulos do caminho de Emaus, diante da opressão dos poderes do império Romano e do sinédrio também está presente em muitos pastores hoje.  
Mas para nossa perplexidade, indignação e vergonha, há também os que se posicionam abertamente a favor do cristofascismo e o praticam. Estes renderam-se aos encantos do poder e da dominação, estão conduzindo seus membros/as em suas megas-igrejas para um lugar tenebroso e perigoso, um lugar de trevas, horrores e medos. Ao contrário dos covardes dominados pelo medo, estes se unem abertamente ás forças de extrema direita em uma ofensiva contra o povo e posicionamentos progressistas no campo cristão, defendendo opressão, tortura e morte.  

Como povo de Deus, o que podemos fazer diante de um contexto obscuro, onde o mal avança rapidamente de maneira assustadora em nosso país com o apoio de líderes evangélicos? Urge nos posicionar contra toda forma de opressão, segregação; preconceito e ódio, contra tudo que é anticristo. Orar, resistir, lutar e agir, não devemos deixar que o medo e a covardia encontrem lugar para agir em nós. Jamais! É necessário e urgente escolher o lado, que é o lado da justiça, da libertação dos oprimidos, da luta nas trincheiras pelo restabelecimento do estado democrático de direito. É preciso amar, é preciso ficar do lado de Deus, que é amor e libertação.

Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.  



  



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