Marcos Aurélio dos Santos*
Em uma das minhas Caminhadas pelas ruas e becos da comunidade de Jardim Progresso, região periférica do bairro de Nossa Sra da Apresentação decido visitar algumas famílias. Pela graça de Deus conheci a família de Isabel. Mulher negra, mãe de oito filhos, pobre, vítima da desigualdade social brutal em que vive o nosso país. Não foi necessário ouvir muito sua história. Seu semblante e as condições em que vive já demonstrava sua vida de sofrimento.
O que tínhamos
oferecemos como uma forma de combater essa desigualdade que fere o direito
humano. Colocamos a disposição o nosso apoio. Matrículas para Kauê e Kauane, no
Espaço Comunitário pé no chão para o programa de Educação para Crianças e
Adolescentes. Eles chegaram a um ano e estão indo bem, apesar das limitações.
Eles gostam de estar com os professores e professoras, aprendem sobre direitos
humanos e se alegram quando brincam com os colegas.
O caso de dona Isabel é o exemplo de várias outras famílias que temos acompanhado. Dentre outros desafios sociais estão: vícios, desemprego, fome, pai ausente, crianças que perderam os pais para o tráfico de drogas, “como no caso de Samara e Tálison”, doenças, problemas de ordem espiritual e outros.
A realidade da
vida na periferia é dura. Gente que tem que sair para trabalhar as quatro da
madrugada em um coletivo lotado, muitos deles não têm com quem deixar os filhos
pois os ganhos são poucos, por muitas das vezes falta de alimento e remédio.
Todos estão expostos aos perigos da violência urbana. (Estas pessoas estão morando
no Bairro Mais violento de Natal, com uma média de mais de cem assassinatos por
ano).
Contudo,
diante de um contexto de injustiça há uma “Boa Nova de libertação."
Deus Está na
Periferia e caminha com o pobre. O Reino de Deus chegou! E qual é a Boa Notícia?
Digo: há Esperança pois a utopia vive.É possível ver novos horizontes pois há
um futuro melhor. O Reino de Deus está entre nós e dentro de nós. Há um novo
amanhecer, que trará nele paz e justiça para os que sofrem. Em Jesus de Nazaré,
o servo sofredor renasce a esperança para os cansados e oprimidos.
Quando a missão é libertadora, se manifesta a justiça de Deus. Quando uma criança analfabeta aprende a ler e escrever, quando um jovem renova sua esperança por um futuro melhor, quando os pobres conquistam pelos seus esforços os seus direitos, quando os oprimidos se levantam e lutam por sua libertação, é um sinal de que o Reino chegou na periferia. Quando vidas são transformadas, por meio de um movimento comunitário que inclui todos e todas, o Reino se faz presente de forma concreta.
A Periferia é
um lugar onde a igreja deve estar, é o lugar de sua práxis, pois Deus já está
lá. Ele sempre está em missão. A igreja é cooperadora de Deus, por isso nós
devemos ser agentes de transformação. Não podemos recuar, nem tão pouco ficar
como espectadores da história e do sofrimento humano. A missão da igreja é ser
serva.
Devemos
começar debaixo para cima. A periferia foi o lugar por onde Jesus começou. Ele
foi para a Galileia e viveu entre os pobres. Quero estar na periferia, quero
empoeirar os pés na comuna, quero sentir o cheiro das pessoas, quero abraçar e
sorrir com as crianças, quero servir, quero me comprometer com o pobre, com o
oprimido, com os sem voz, porque assim fez o Jesus de Nazaré. Vamos sonhar e viver
essa práxis juntos?
Que a Justiça
do Reino de libertação possa correr pelas ruas de Nossa Sra da Apresentação
como um rio em tempos de inverno para a Glória de Deus.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.
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