Marcos Aurélio dos Santos
Servir às pessoas foi uma
prática constante na vida de Jesus de Nazaré. Esta prática libertária de Jesus
era um anúncio da chegada do reino de Deus aos pobres e oprimidos, um novo
horizonte cheio de amor e esperança para um novo tempo. Não se tratava de um
departamento de ação social-denominacional-institucional via instituição em
forma de assistencialismo. Seu ministério de serviço caracterizava-se em atos
concretos de compaixão e misericórdia. Alimentou os que tinham fome (Mc.8.2),
recebeu os pobres como seus irmãos e irmãs (Mt.19.21), cuidou dos doentes
(Jo.11.6), se compadeceu de todos que eram vítimas do sofrimento causado pela
injustiça. (Lc.10.33; Mt.18.33; Mc.8.2).
Foi nas cidades mais pobres da
periferia de Jerusalém como Jericó, Cafarnaum, Nazaré e Caná da Galileia que
Jesus iniciou sua missão libertadora. Acolheu os esquecidos, assentou-se à mesa
com a ralé: pecadores e publicanos. Visitou os enfermos e os curou, recebeu as
crianças pobres em situação de risco e denunciou o estado e o sistema religioso
opressor que se situava em Jerusalém. Em
sua maioria, estas cidades estavam esquecidas pela sociedade judaica,
principalmente pelos líderes poderosos da religião, do império e do comércio.
Foi neste contexto de exclusão que Jesus iniciou o seu ministério.
Estas comunidades eram
habitadas por pessoas simples. Pequenos comerciantes, pescadores, publicanos
(não os chefes, mas os funcionários de baixo escalão da alfandega),
agricultores, carpinteiros e outros que praticavam atividades modestas. Apesar
da opressão aos pobres que permeava nessa região, estas pessoas tinham
dignidade, por isso, Jesus não praticou um assistencialismo em seu serviço às
pessoas, mas acolheu a todos reconhecendo o potencial de cada um deles. Os
chamou de bem-aventurados e lhes ofereceu o reino (Lc.6.20) como meio deu uma
libertação politizada.
O que movia Jesus a servir às
pessoas não era uma motivação pessoal e egoísta, mas sua visão de partilha
comunitária. O eixo de sua ação era o amor. Jesus estava desalinhado aos belos
discursos vazios dos religiosos do seu tempo compostos apenas de palavras,
Jesus encarnou o Evangelho na vida. Servia sem nenhuma pretensão de ser
servido, não reivindicou nenhum direito ou reconhecimento da comunidade, em
nenhum momento submeteu às pessoas a uma submissão com a pretensão de
destacar-se entre os demais. Considerava os mais desfavorecidos como pessoas de
grande valor na sociedade, enxergando neles a dignidade. Jesus via na
comunidade um enorme potencial para a missão libertária do Reino de Deus.
A compaixão estava nas suas
entranhas. Em Jesus haviam uma convicção tão profunda sobre seu ministério de
serviço, que chegou a dizer: como o Filho do homem, que não veio para
ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por
muitos"( Mt.20.28). Em nenhuma situação ostentou, nem tão pouco
acumulou, mas como “Deus Servo”, decidiu tomar forma de um humilde servo
sofredor. (Fp.2.7). Sempre movido de intima compaixão pelos que sofrem buscou
realizar a vontade do Pai, deixando a sua vontade em último lugar. Preferiu as
coisas mais simples decidindo viver entre os mais pobres. Nosso Deus é o Deus
da compaixão e da humildade.
Este ministério de amor
político-diaconal-libertário de Jesus deve correr também nas veias da igreja.
Somos a Igreja de Cristo no mundo, chamados para ser sal e luz, e, portanto,
esta deve ser serva de todos e todas. Sua missão não deve estar centrada em
ações reducionistas e egoístas, mas no ministério de Jesus de Nazaré, o servo
humilhado. Nas comunidades onde estamos inseridos, devemos seguir o exemplo
daquele a quem a igreja pertence, que comprou com preço inegociável, preço de
sangue. Nosso chamado como igreja é para ser serva da comunidade. Isso implica
em doar-se em ações de amor político e serviço aos pobres.
Toda igreja deve ser
comunitária pois assim é a Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo
trabalham incansavelmente juntos em perfeita parceria e unidade para governar o
mundo que antes fora criado. Em sua maneira de viver, a igreja deve
compartilhar os dons concedidos por Deus a ela. Deve servir porque aquele que
morreu por ela foi servo até o fim.
A razão da existência da igreja
é para glorificar a Deus por meio de uma fé política e libertária. Não é essa a
missão daqueles que foram chamados para serem luz do mundo? ( Mt.5.14). Por
esta razão, a prática do amor político por meio do serviço e o amor mútuo entre
os irmãos é o meio de identificação dos verdadeiros discípulos de Jesus
(Jo.13.35). Uma igreja que serve é uma igreja viva, que faz produzir frutos de
esperança para a construção de um mundo melhor.
Como igreja temos servido às
pessoas que Deus nos confiou na comunidade onde estamos inseridos? Temos
colocado à disposição do nossos pequeninos irmãos e irmãs nossos bens, dons e
serviços? Temos enxergado a comunidade não como um meio de prática de
assistencialismo-denominacional-institucional, mas como um lugar onde podemos
demonstrar o Reino de Deus por meio da compaixão, fé política e serviço?
Sobre
o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista
Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador
da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do
Espaço Comunitário Pé no Chão.
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