Marcos Aurélio dos Santos
Texto Base:
"Vocês
ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar
estará sujeito a julgamento’. (Mateus 5:21); Não sejamos como Caim, que
pertencia ao Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras
eram más e as de seu irmão eram justas (1 João: 3.12).”
O Evangelho de Jesus de Nazaré é o anuncio da chegada de
uma nova era de paz, justiça e vida plena. O evangelho da vida chama a todas e
todos para a prática da promoção e cuidado com a humanidade. É um chamado para
sermos pacificadores/as (Tiago: 3.18; Mateus: 5.9) em uma missão libertária
para unir as pessoas em torno do Cristo, o Príncipe da paz. Os pacificadores do
Cristo devem ser contra as armas, guerras e conflitos, deve se opor a todo tipo
de opressão truculenta que venha a pôr em risco a vida humana. Os pacificadores
são aqueles que lutam pela justiça, fazem opção pelos mais fracos, que na
maioria dos conflitos sempre saem derrotados. A pacificação é um ato revolucionário,
que deve preceder aos que pretendem ser seguidores/as de Jesus.
O Evangelho de Mateus nos conta que Jesus ensinou na
prática aos seus discípulos que os conflitos não podem ser resolvidos com
violência e armas. Era chagada a hora em que Jesus seria entregue para ser
preso, torturado e assassinado como herege e subversivo. Um dos seus discípulos
apelou para a violência puxando a espada e decepando a orelha do servo do sumo
sacerdote (Mateus: 26.51). Jesus intervém no conflito armado em um apelo
extraordinário em defesa da vida e da paz. “Disse-lhe
Jesus: "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada
morrerão” (Mateus 26:52).
A defesa de Jesus pela paz e pela vida em meio a um
possível início de um conflito armado contra o império romano foi uma
concordância ao projeto do reino de Deus que traz a mensagem da Boa Nova de
alegria, paz e justiça. O reino de Deus é chegado não como uma proposta de
retomada do poder por meio da luta armada com violência e morte. Essa era a
lógica do império romano, não do Deus que veio para promover libertação, misericórdia
e paz (Tiago: 3.18; Romanos: 14.17)
A Palestina estava sob o forte domínio dos romanos. Os
pobres viviam debaixo de opressão, contudo em meio a tanta injustiça Jesus não
apela para as armas mas para a luta pacifica, organizando o povo em
resistência, de forma comunitária, na luta pela libertação, na esperança de um
mundo melhor, renovando a consciência dos novos discípulos e discípulas. A
palavra de Jesus no sermão do monte é o eixo para entender seu ensino sobre o
reino de paz e justiça. Não matarás! (Mateus: 5.21). Jesus diz não ás armas.
Hoje vivemos dias difíceis em nosso país. Há um forte
crescimento da violência, como indica essa recente pesquisa:
“O
Brasil contabilizou 63.880 mortes violentas ao longo de 2017. O número, que
significa média de 175 mortes por dia (ou ainda 7,2 por hora), representa o
novo recorde da violência no País, conforme o novo anuário da segurança
divulgado nesta quinta-feira (9) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP). Segundo o estudo, o total de assassinatos reportados pelas secretarias
estaduais de segurança de todo o País em 2017 supera em 2,9% o índice do ano
anterior e trata-se do maior número desde que os dados da violência começaram a
ser compilados pelo FBSP, em 2013.”
(Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2018-08-09/violencia-no-brasil-estatisticas.html).
Ao contrário do ensino de Jesus sobre a pacificação,
prevalece a lógica das guerras, da bala, da pistola, do fuzil, do conflito
armado, da violência. Em meio a um país dividido por ideologias políticas,
econômicas e religiosas, em um contexto de violência e morte, quem for mais
rápido no gatilho, sobreviverá. Como sempre ocorreu na história, as minorias e
os mais fracos estarão mais veneráveis. Mulheres vítimas de violência doméstica,
crianças indefesas, quilombolas oprimidos, LGBT’s assasinados, índios
explorados. Estes e muitos outros são as vítimas mais vulneráveis à violência
com arma de fogo em nosso país.
Além do grande perigo do armamento da população, existe a
questão econômica-capitalista. A quem mais interessa a liberação das armas?
Ora, as grandes indústrias de armas estão apostando em um aumento nas vendas e
redução de impostos por parte do governo para aumentar seu capital, isso em
detrimento da vida. Querem aumentar a produção de armas e munição, querem
aumentar seus lucros a preço de sangue inocente derramado nas periferias.
Querem atender aos desejos maléficos dos grandes latifúndios e empresários da morte, dos grandes comércio, que
pretendem, por meio da bala, proteger seus bens e riquezas. Estes não estão
levando em conta a vida dos que estão sob sua proteção. O discurso é falso,
pois para a maioria, as coisas tem mais valor do que as pessoas em concordância
com a lógica perversa do governo que apoiam.
O Evangelho de Jesus de Nazaré se contrapõe à violência,
aos conflitos e as armas. O evangelho da paz é a promoção da vida abundante, da
valorização integral das pessoas e não dos bens acumulados. O projeto de Jesus
é de paz, igualdade e justiça, de alegria no Espírito, essa é a proposta do
reino de Deus. Que sejamos sempre resistência aos senhores das armas, aos
senhores da terra, do capital. Que sejamos pacificadores subversivos e
corajosos, no caminho de Jesus de Nazaré.
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