O Crime Ambiental em Brumadinho e os Senhores da Lama



Marcos Aurélio dos Santos 

“Precisamos, urgentemente, de uma ética regeneradora da Terra. Esta deve devolver-lhe a vitalidade vulnerada a fim de que possa continuar a nos presentear com tudo o que sempre nos galardoou. Será uma ética do cuidado, do respeito a seus ritmos, da compaixão e da responsabilidade coletiva. ” (Leonardo Boff).

As palavras do teólogo Leonardo Boff são de caráter profético. A falta de ética quanto à questão da terra certamente tem causado muitos males à criação. A ordem de Deus que foi dada a todos nós sobre o cuidar da mãe terra tem sido negligenciada por razões egoístas e mesquinhas. O desrespeito à maneira natural de como a natureza se desenvolve, o amor ao dinheiro e o desprezo pelo cuidado comunitário são algumas das principais razões pelas quais a terra vive em constante agonia, com gemidos de dor e desespero (Romanos: 8.22).

A ganância, que é o amor ao dinheiro é a força que move os corações dos avarentos. Como filhos desordeiros e obedientes do capitalismo, não respeitam a vida humana, não reconhecem a importância da biodiversidade, da força e da vida dos rios, do poder de vida das árvores. Mas o que de fato lhes interessa é o lucro exorbitante, a exploração criminosa das riquezas naturais de nosso país. Os mercadores da terra usam suas ferramentas de destruição para explorar e assim atender o mercado capitalista, satisfazendo os anseios do neoliberalismo e suas perversidades. O dinheiro vale mais do que a vida, pois o capitalismo não tem sentimentos.

O crime ambiental em Brumadinho – MG, é uma demonstração do quanto os amantes do dinheiro não se importam com a vida. Vidas soterradas na lama da ganância, centenas foram arrastados em suas casas, dentro de ônibus ou nas estradas. As doações, segundo os bombeiros são desnecessárias devido ao grande número de mortos e desaparecidos. Uma situação de dor, sofrimento e lamento. A ganância por lucros bilionários faz suas vítimas. Homens, mulheres, crianças, animais, rios, árvores etc. A natureza que geme não suportou os atos de maldade dos poderosos, a perversidade dos que se dizem donos da terra implodiu em lama. Ricos avarentos que desenterram ferro, ouro, o cobre e outras riquezas para soterrar pessoas. São os criminosos da lama.

Essa perversidade contra a vida está sob a responsabilidade da VALE, mineradora que foi privatizada no governo FHC, a mesma que responde na justiça pelo rompimento da barragem de Mariana, que também causou crime ambiental a 3 anos atrás em um desastre de grandes proporções, e que segundo a reportagem do jornal El país, pagou apenas 1% da multa aplicada. Estrangeiros que compraram a Vale a preço de banana, que faturam bilhões em lucros recordes ano após ano, que ignoram as leis ambientais brasileiras. Estes senhores da lama claramente não demonstram nenhum respeito à mãe terra. São assassinos de gente inocente.

“Em 1 de Dezembro de 2018, o presidente eleito, Jair Bolsonaro declarou: “Não vou mais admitir o IBAMA multando a torto e a direito por aí. Bem como o instituto Mendes de conservação da biodiversidade. Essa festa vai acabar.”  

Essa declaração recheada de ódio aos que defendem a terra é uma promessa de campanha, tem uma direção e um alvo. Um governo que pretende governar para os ricos deve prometer benefícios, ainda que ao custo de vidas de milhares de pessoas. Afrouxar as leis ambientais é um alívio para os criminosos da natureza. As leis são para a proteção da biodiversidade, para auxiliar no cuidado da casa comum, para preservar e respeitar o ambiente em que vivemos. Essa declaração do presidente eleito claramente o faz fiel parceiro dos que querem destruir a vida, dos que em nome do capitalismo pretendem desmontar o direito das pessoas de viver em harmonia com a criação. Sobrevoar sobre a lama, destroços e corpos com um ministro condenado por corrupção, por crime ao meio ambiente é a maior das hipocrisias. É como se o criminoso visitasse a cena do crime, de maneira fria, sem misericórdia e sem sentimentos.

Reafirmamos a importância do respeito e cuidado com a mãe terra. A verdade é que não se pode esperar muito dos poderoso, dos supostos donos da terra, creio que quase nada de positivo pode vir deles. Contudo devemos fazer nosso papel de cuidadores do grande jardim de Deus, respeitando o curso natural da natureza, denunciando a exploração e a ganância das grandes mineradoras, madeireiras e outros. É preciso criar frentes de resistência ás propostas de flexibilização das leis ambientais que favorecem os exploradores da terra, que desmatam, e ferem a natureza.

Que a casa comum seja o nosso lugar de caminhada, de ética da terra, de resistência e luta.     
    
          


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