Marcos Aurélio dos Santos
A extrema direita avançou no Brasil e, agora pelo voto popular, assume o poder no planalto. O caminho traçado para chegar às cadeiras que irão governar o país está sendo fortemente marcada pelo fascismo, sustentado por um tripé: medo, ódio e mentiras. Os discursos inflamados, carregados de arrogância, ameaças e violência transformaram-se em uma prática que alimenta os anseios de uma sociedade odiosa, gerando morte, medo e terror entre as pessoas. Foram muitos os casos de violência registrados na justiça. Foi a eleição mais tensa e polarizada das últimas décadas com discurso de exaltação à tortura, eleitores de Bolsonaro com arma nas urnas e anuncio antecipado de extermínio da oposição.
A campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro não ficou marcada apenas pela violência, mas também pela mentira. Uma máquina cruel de produção de notícia falsas norteou a campanha eleitoral do capitão, que está sob investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Muitas mentiras impulsionadas via aplicativo WhatsApp, pago por empresas suspeitas de prática de caixa 2, o que configura crime eleitoral. Falsas notícias contra o candidato da oposição Fernando Haddad estão na linha de investigação da justiça eleitoral.
O discurso de ódio às minorias pregado na campanha de Bolsonaro começa a se concretizar a partir de suas falas desastrosas já antes de assumir o poder. Seu ódio aos cubanos e aos pobres começou a afetar de maneira grave um dos programas mais importantes para a saúde no Brasil, o “Mais Médicos”. Já foi constatado que, se concretizando a saída dos médicos cubanos do Brasil, quem sofrerá serão os mais pobres. São milhões!
Comunidades ribeirinhas, comunidades indígenas, bairros periféricos, pequenas cidades do interior do Norte e Nordeste, pessoas pobres das periferias dos centros urbanos. Um governo fascista que antes de assumir já causa um processo doloroso de exclusão dos pobres.
É preciso resistência.
É preciso resistência.
É preciso retornar às bases, fortalecer o povo e seguir em resistência. Essa luta poderá ser longa, de muitas dores, e certamente, difícil e cheia de desafios. Por isso, é urgente fazer algumas perguntas. Como Igreja cristã, onde erramos? Não é hora de fazer uma autocrítica? Qual deve ser nossa resposta diante de um governo autoritário que deseja a todo custo esmagar os que pertencem ao campo progressista? Qual o caminho para a busca da unidade?
Na caminhada cristã não podemos deixar de acreditar em utopias, pois são nelas que caminham o amor, a misericórdia e a esperança. Nossos sonhos devem ir além das urnas, de um partido político, de uma ideologia. Retornar as bases significa organizar o povo, unir-se e fazer um longo e árduo trabalho de consciência, sem priorizar um seguimento denominacional fechado, sem um projeto pessoal. A base é com o povo. Partidos, movimentos sociais, grupos ativistas, igrejas, frentes populares, profissionais liberais, etc. Devemos evitar um projeto isolado, mas um grande levante popular e comunitário que agregue todos e todas que estão engajados na luta pela reconstrução do estado democrático de direito.
Retornar às bases implica seriamente em resistir na luta contra o fascismo. Não foram poucos os cristãos da ala conservadora que se encantaram e se aliaram em apoio a um governo de extrema direita. Foram milhões, apesar de muitos terem sido enganados, pois nem todos são fascistas, mas pessoas manipuladas por seus líderes. Neste sentido é preciso resistir e não ceder aos encantos, não negociar os valores cristãos e fortalecer as trincheiras em oposição a toda injustiça e desumanidade do governo que assume o poder, fortalecendo os meios de comunicação e educação popular, criando mais escolas de formação cristã e fortalecendo de maneira radical os movimentos de rua.
Por fim, vale a pena refletir sobre a experiência do pastor Luterano Dietrich Bonhoeffer que lutou com resistência contra o nazismo de Hitler na década de 30 na Alemanha. Bonhoeffer foi um exemplo de fé e resistência diante de um governo fascista, eleito pelo voto popular, mas que resultou no trágico extermínio de mais de 6 milhões de Judeus. Ele ajudou muitos Judeus a se libertarem da opressão nazista, o que lhe custou o martírio.
A resistência requer de todos nós uma fé cheia de amor, coragem e esperança. Por uma resistência sem individualismo, mas sim, de um ajuntamento comunitário, uma fé politizada, na luta pela liberdade do outro, arraigada nos valores democráticos, na força do Deus de misericórdia e justiça.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.
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