(Foto ilustrativa)
Marcos Aurélio dos
Santos
“Jesus, porém, vendo isto,
indignou-se e disse-lhes: Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais;
porque dos tais é o reino de Deus”. (Mc.10:14).
“E morará o lobo com o
cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão
e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará” (Isaías 11:6).
Dentre os meninos e meninas
cheios de amor e vocações conheci o Thalison, um menino negro que nos ensina a
fazer teologia. Apesar de nem saber bem o significado de ser teólogo ele o é.
Thalison não é um teólogo profissional, de faculdade, de escrivaninha, das
leituras e pesquisas, não é teórico, até porque não tem idade para ser. Ele é o
nosso amado teólogo popular. Ele a faz a partir da realidade onde ele vive.
Onde estuda em uma escola pública, onde mora, brinca, caminha pelas ruas
enlameadas, vai ao mercadinho, à mercearia ou quando sobra algum trocado compra
um dimdim na casa do vizinho.
Nosso teólogo popular fala de
maneira espontânea sobre amor e justiça. Diz que na comunidade há carência de
segurança, saúde, saneamento e outros problemas. Para ele, essa não é a vontade
do Deus da justiça para os moradores de Jardim progresso e que as pessoas devem
ter direito a essas coisas. Órfão de pai e mãe,Thalison é um menino cheio de
esperança, de sonhos, virtudes que faltam muitas das vezes nos teólogos
profissionais sistemáticos que lamentavelmente se detém apenas nas teorias
repetitivas. Nosso “Teólogo mirim” Entende que devemos ser obedientes a Deus e
fazer a sua vontade. Certa vez perguntei para ele: Thalison, para você, quem é
Deus? Ele respondeu: Para mim, Deus é Compaixão, amor e misericórdia. Fiz
também outra pergunta ao nosso teólogo da periferia: O que Deus quer de nós
como cristãos? De uma forma simples ele respondeu: Obedecer a Ele e servir às
pessoas.
Em minha caminhada com
Thalison a quase três anos, tenho aprendido a diferença entre fazer teologia e
construir reproduções descontextualizadas de pensadores a partir de uma mesa e
um teclado de notebook. Aprendi com o pequeno teólogo popular no caminho, compartilhando
com ele em sua própria experiência de vida, no seu jeito simples de menino as
vezes desobediente, em sua sinceridade de criança sem malicia e sem grandes
ambições de poder, em seus momentos de tristeza causados pelas dores da vida.
Aprendi que para fazer teologia contextual-latino-americana se faz necessário
estar entre o povo e com o povo, interagindo em ações concretas de libertação.
É impossível fazê-la isolado da realidade da vida, da história, do contexto
onde estamos. É preciso pé no chão.
Tentar retirar Deus da
história, da vida, dos pobres e depois escrever não é fazer teologia. Levar
Deus para uma esfera distante da realidade e sofrimento como também da alegria
das pessoas é alienação. Para fazer teologia no caminho devemos trazer a
criança pobre e negra da periferia para o centro de nossa reflexão, e, isso
deve começar a partir do lugar onde estamos, lá deve ser a fonte de construção
do fazer teológico. É na experiência prática que iremos até o texto bíblico
onde encontramos a base para uma teologia popular, a saber, o Evangelho de
Jesus de Nazaré, que deve ser o eixo de toda teologia.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI
(Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos
pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no
Chão.
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