Jesus de Nazaré: Compaixão e Partilha




Marcos Aurélio dos Santos 

Naqueles dias, outra vez reuniu-se uma grande multidão. Visto que não tinham nada para comer, Jesus chamou os seus discípulos e disse-lhes: “Tenho compaixão desta multidão; já faz três dias que eles estão comigo e nada têm para comer. Se eu os mandar para casa com fome, vão desfalecer no caminho, porque alguns deles vieram de longe". Os seus discípulos responderam: "Onde, neste lugar deserto, poderia alguém conseguir pão suficiente para alimentá-los? "

"Quantos pães vocês têm? ", perguntou Jesus. "Sete", responderam eles. Ele ordenou à multidão que se assentasse no chão. Depois de tomar os sete pães e dar graças, partiu-os e os entregou aos seus discípulos, para que os servissem à multidão; e eles o fizeram.
Tinham também alguns peixes pequenos; ele deu graças igualmente por eles e disse aos discípulos que os distribuíssem. O povo comeu até se fartar. E ajuntaram sete cestos cheios de pedaços que sobraram. Cerca de quatro mil homens estavam presentes. E, tendo-os despedido, entrou no barco com seus discípulos e foi para a região de Dalmanuta (Mc 8.1-10).

Não há comida, o lugar é deserto e há uma grande multidão cansada que está a perecer pelo caminho. Uma situação emergencial onde Jesus desafia os seus discípulos a prática do bem comunitário. Foram incomodados por Jesus a priorizar o povo cansado e faminto em detrimento de saciar a sua própria fome. Os discípulos receberam a missão de servir primeiro a multidão. (Mc.8.6). Foram os últimos a comer! Um senso comum de justiça que Jesus ensinou aos discípulos. “Melhor que falte a nós do que ao nosso próximo. Um senso com base no amor. ” E esse amor é praticado pelos alunos do Cristo mais adiante na Igreja do primeiro século (At. 2. 42-46).

O ensino de Jesus sobre a partilha comunitária gerou um resultado extraordinário. A partilha dos pães e dos peixes saciou a fome de todos ao ponto de sobrar (Mc.8.8). O poder do amor vence o individualismo que é contrário a toda a ação comunitária. Os discípulos de Jesus aprenderam na prática o novo mandamento: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo” (Lc10. 27).

Mas o que levou Jesus a essa inquietação com a falta de comida para alimentar uma multidão faminta? Certamente não era a autopromoção para gerar populismo, ou para satisfazer aos anseios de uma classe dominante e opressora que se gloriava em dar esmolas. Não! O que motivou Jesus a partilhar pão e peixe com o povo foi a compaixão (Mc.8.2). Jesus percebeu de perto, bem próximo pois estava com eles, no mesmo caminho deserto em meio ao sol, dormindo com eles e sentindo o frio da noite de três dias de caminhada. Não como observador do sofrimento do povo, mas encarnando o amor do pai entre os pobres, entre os que desfaleciam em busca de libertação. A compaixão era o eixo que movia a missão comunitária de Jesus de Nazaré.

Hoje vivemos em uma economia globalizada, sob domínio de um sistema neoliberal. Apesar de sermos um continente abastardo em riquezas naturais, a América Latina é o continente onde há o maior índice de desigualdade social. Há milhões de pobres e famintos. A mensagem de Jesus não é restrita apenas para um seguimento religioso exclusivo. O Evangelho é a boa nova para um mundo que Jesus amou e que sofre os males da injustiça de um sistema opressor que tem gerado desigualdade. Uma minoria rica dominadora que esmaga o pobre. O Evangelho de Jesus desafia o mundo ao arrependimento, ao desafio de ser uma comunidade comunitária onde possa haver de fato a prática da justiça e partilha. 

Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.  
   



     



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