A tragédia genocida aos Yanomamis e o silêncio dos evangélicos

Marcos Aurélio dos Santos 

As missões evangélicas entre os povos indígenas teve um crescimento acentuado nas últimas década. Uma pesquisa recente revela que 36% dos indígenas brasileiros de diversas tribos se converteram ao seguimento evangélico. A partir de uma leitura fundamentalista e literal da Bíblia, os missionários evangélicos acreditam que estão cumprindo o “ide e pregai a toda criatura” ainda que o método seja proselitista, desrespeitando as crenças e culturas dos povos indígenas, sobretudo demonizando o caciques, líderes das comunidades que tem a responsabilidade de guiar, cuidar das tribos indígenas, e o Pajé que exerce a função de sacerdote que cuida das questões espirituais do povo.

As missões evangélicas do ide partem de um pensamento pautado em teologias fundamentalistas, que impõe uma “verdade absoluta” como eixo para uma suposta evangelização dos povos indígenas. É a pregação da salvação eterna (conversão) que leva a uma morada no céu ou condenação eterna ao inferno caso não se converta. Para isso, os missionários obrigam os indígenas a obedecer suas doutrinas, dogmas e sistemas de hierarquias. A missão é desconstruir a crença e a forma de espiritualidade praticada pelos indígenas em contraponto aos ensinos do pajé. 

No contexto desses dias, é importante perguntar. Qual a resposta das missões evangélicas e seus líderes diante das práticas genocidas ao povo Yanomami? O abandono, a fome, as doenças, os abusos e morte? Ao que parece, prevalece o silêncio diante de fatos que chocam o mundo. Não há um posicionamento dos evangélicos, se apegam mais uma vez a velha teologia do determinismo, que ensina que Deus controla tudo, que o mal que traz sofrimento aos povos indígenas está determinado por Deus (princípios de dores), e o que resta a fazer é orar, e, portanto é preciso uma conversão à doutrina evangélica para a libertação e castigo do mal.

Silenciar diante de práticas desumanas demonstra quais são as verdadeiras intenções dos evangélicos em fazer as missões em terras indígenas. O silêncio diante da tragédia é conivente com a injustiça, e a injustiça e a maldade jamais encontrará lugar no reino de Deus. Os livros de missiologia publicados no Brasil têm ensinado o ide e pregai em detrimento da luta pela libertação humanitária das comunidades que sofrem. De fato é necessário fazer a missão, mas é preciso repensar a maneira de como está sendo realizada. A cultura, a língua, as crenças e tradições, a espiritualidade dos povos indígenas precisam ser respeitadas e preservadas. Algo além disso é exploração, engano, e proselitismo religioso.

O silêncio deve ser repudiado. Então, qual é a missão? A missão é acolher, cuidar, servir e sobretudo denunciar. Os cristãos são chamados a uma voz profética, libertadora e humanitária, esse é o chamado missionário de Deus.

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