Marcos Aurélio dos Santos
Texto base: (Lucas 19: 1-10).
O seguimento de Jesus foi marcado
por encontros de amor, subversão e Libertação. Dentre vários, o evangelho de
Lucas nos conta sobre o encontro de Jesus com o pequeno Zaqueu em uma pequena
cidade chamada Jericó, cidade das palmeiras, situada às margens do Rio Jordão,
a 27 quilômetros de Jerusalém. Zaqueu era chefe dos publicanos. Rico,
funcionário do estado, agente coletor de impostos a serviço de Roma, que coletava
impostos sobre mercadorias que transitavam pela cidade. Este tem um encontro
com Jesus em sua casa em uma recepção alegre.
Zaqueu estava entre o grupo dos
excluídos. Em Jericó havia também o cego Bartimeu que pedia esmolas na entrada
da cidade, e que foi criticado pelo povo por incomodar Jesus quando passava.
Jesus o curou e ele o seguiu em sua peregrinação. Jesus foi criticado por se
dispor a visitar Zaqueu, considerado pecador, considerado um impuro pelo fato
de ser amigo do império. Para um Judeu, só há um Deus, e quem servisse ao rei
dos romanos era considerado um pecador. Assim era considerado Zaqueu, um impuro
pecador e por isso era excluído.
A corajosa visita de Jesus na
casa de um publicano considerado pecador, traidor dos Judeus, que oprimia o
povo a mando do Império causou no mínimo indignação e críticas por parte da
sociedade judaica. Jesus nada falou, apenas acolheu, não desanima e confirma a visita,
pede para que Zaqueu desça depressa da figueira para juntos irem à sua casa.
Zaqueu expõe para Jesus em forma de confissão o quanto estava do lado errado da
história. História esta, marcada pela opressão aos pobres sob cobrança de
impostos abusivos que chegavam ao absurdo de 50% da renda de famílias pobres.
Mas não somente isso. Havia
também fraude, desvio de recursos para o caixa 2, o que gerava acúmulo de
riqueza em detrimento do aumento da pobreza entre o povo, como se percebe
claramente nos escritos dos evangelhos que nos contam um pouco sobre a viúva
pobre, o cego Bartimeu, o aleijado acamado e muitos outros, vítimas da exclusão
e opressão dos dois poderes: religião e Império.
A conversa de Jesus com Zaqueu
foi pontuada por um diálogo libertário e revolucionário. Zaqueu se sente amado
e compreendido por Jesus e conta para Jesus o que certamente não contaria nem
ao seu melhor amigo. Uma confissão livre do medo e da condenação. Zaqueu abre a
vida para o arrependimento, o que lhe desafia a realizar ações concretas de
amor, libertação e justiça: Usando um dispositivo da lei (Ex. 21.37; 22.3),
Zaqueu decide restituir quatro vezes mais aos que sofreram exploração opressora
por parte do Império Romano, os que estavam sob sua fiscalização e decide pela
partilha em vez do acúmulo. Distribui metade dos seus bens com os pobres. Um
ato de amor revolucionário!
O encontro libertador de Zaqueu
com o Jesus de Nazaré o faz mudar de lado, e certamente isso lhe custou um
preço. O rico opressor, amigo dos Romanos e do Sinédrio se faz pobre. Zaqueu
decide pelo seguimento de Jesus, na caminhada de libertação com os pobres. O
publicano dá um salto para o outro lado da história, a história de um povo em
saída, em uma práxis de vivência comunitária, dos que lutam pela busca da vida
comum entre todos/as.
Jesus o chama de filho de Abraão, pai da promessa que caminhou
com o povo ao encontro de uma nova terra, na esperança utópica para a
construção de uma nova sociedade.
Hoje não é diferente. Nosso povo
vive um momento crítico de nossa história. Retirada de direitos, altos impostos,
desemprego, corrupção e opressão aos pobres. Há um aumento significativo da
pobreza em nosso país, o que tem gerado o aumento da fome e acesso aos direitos
básicos para os mais desfavorecidos. O cenário político, econômico, social e
religioso nos mostram caminhos difíceis e sombrios como a manifestação
progressiva do fascismo com o apoio das forças fundamentalistas e conservadoras
desses seguimentos.
Diante desse contexto de
exploração e sofrimento do nosso povo, Jesus deseja ter encontros com muitos
Zaqueus. Homens e mulheres que estejam abertos/as para uma conversa libertária
com Ele, que estejam dispostos a uma mudança radical (conversão) e escolher o
lado certo da história, que por meio de uma fé libertária possam lutar por dias
melhores. Que os cristãos/ãs de hoje tenham a mesma coragem do pequenino Zaqueu
da Judeia, para que nos ajuntemos em um grande e amoroso movimento no caminho
de libertação.
Sobre o Autor: Marcos Aurélio é Teólogo e Ativista Social. É colunista do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Facilitador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Natal, RN e coordenador do Espaço Comunitário Pé no Chão.
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